A China prepara-se para enviar um navio cargueiro pela costa norte da Rússia até à Europa, uma viagem só possível devido ao derretimento do gelo e à aceleração das mudanças climáticas, indicou esta quinta-feira o jornal ‘POLITICO’. O porta-contentores ‘Istanbul Bridge’ vai realizar uma viagem de 18 dias do porto de Ningbo-Zhoushan — o maior do mundo — para Felixstowe, no Reino Unido, acompanhado por um quebra-gelos. O objetivo não é uma viagem única — isso já foi feito antes —, mas estabelecer um serviço regular pela Rota Marítima do Norte da Rússia, ligando vários portos na Ásia e na Europa.
“O panorama geral é que o Ártico está a abrir-se”, salientou Malte Humpert, investigador sénior e fundador do Arctic Institute, think tank sediado em Washington que estuda a segurança do Ártico. “Há 20 anos, estava congelado. Mas agora que está a derreter e algo se está a abrir, há interesse.”
Para Humpert, o impacto pode ser maior do que os cronogramas de transporte. “O Ártico é a primeira região onde as mudanças climáticas estão a alterar o mapa geopolítico. Se não tivéssemos mudanças climáticas, não estaríamos a falar. A Rússia não estaria a produzir petróleo e gás no Ártico. A China não estaria a enviar navios pelo Ártico.”
“É a primeira grande região do globo onde as mudanças climáticas estão a mudar rápida e ativamente a dinâmica geopolítica — por causa dos recursos, do acesso às rotas de navegação e porque uma nova região está subitamente acessível”, apontou.
Por enquanto, o comércio global flui pelos pontos de estrangulamento habituais. “A maior parte do comércio global passa pelo Canal de Suez, Mediterrâneo e Singapura”, disse Humpert. “Mas o Ártico é 40% mais curto e tem muito menos incerteza geopolítica… então, pode-se tornar uma rota comercial alternativa. A questão é: isso está realmente a acontecer? E com que rapidez?”
As viagens chinesas anteriores, no entanto, eram mais simples. “Eles faziam viagens ponto a ponto, como de um porto chinês para Hamburgo ou para São Petersburgo”, salientou Humpert. “Esta viagem é diferente. Eles estão a tentar quatro portos na China, depois pelo Ártico, depois o Reino Unido, Roterdão, Hamburgo e Gdansk. Isso realmente assemelha-se a uma rota marítima normal.”













