Os responsáveis financeiros das empresas portuguesas estão, no geral, mais pessimistas quanto às perspetivas financeiras das suas empresas. A conclusão é do mais recente CFO Survey da Deloitte, relativo à primavera de 2025, que revela um declínio acentuado no sentimento dos Chief Financial Officers (CFO), sentido tanto a nível europeu como em Portugal.
O sentimento dos CFO na Europa está a deteriorar-se, com a proporção dos que têm uma visão menos otimista a aumentar de 27% para 33%. Em Portugal, esta tendência é ainda mais evidente, com 44% dos CFO a manifestarem uma visão mais cautelosa, quase o dobro dos 23% registados no outono passado. A percentagem dos mais otimistas mantém-se estável nos 23%, tanto em Portugal como na Europa, embora a nível europeu esta percentagem represente uma descida face aos 28% registados no outono de 2024. Quase metade (45%) mantém ainda uma postura neutra, refletindo uma perspetiva cautelosa, bem como uma expectativa de estabilidade face às perspetivas financeiras das suas empresas.
Apesar do pessimismo quanto às perspetivas financeiras gerais, os CFO nacionais mantêm-se mais confiantes do que os seus pares europeus no que respeita ao crescimento das receitas e à evolução das margens operacionais. O saldo líquido das expectativas de receita em Portugal caiu de +52 para +42, enquanto na Europa desceu de +37 para +29. As margens operacionais seguem uma trajetória semelhante, revelando maior otimismo por parte das empresas portuguesas.
Para Nelson Fontainhas, Partner da Deloitte e responsável pelo estudo em Portugal, “os CFO europeus têm vindo a enfrentar um cenário de incerteza económica e política, que reflete o sentimento negativo evidenciado nesta edição do CFO Survey. Apesar de Portugal mostrar um pessimismo mais acentuado relativamente à media europeia, é importante notar uma resiliência notável nas expectativas de receita e margens. A prioridade clara na transformação digital, aliada a uma abordagem defensiva focada na redução de custos, mostra um equilíbrio estratégico essencial para navegar os atuais riscos internacionais. Num contexto marcado por elevada aversão ao risco, especialmente em Portugal, a prudência financeira é hoje mais do que nunca fundamental para garantir estabilidade e preparar o crescimento futuro”.
Em termos de setores, os CFO de Serviços Empresariais e Profissionais continuam a demonstrar maior confiança nas perspetivas financeiras das suas empresas, com o setor da Construção a apresentar também uma perspetiva ligeiramente otimista. O setor Automóvel e o setor de Produtos e Serviços Industriais, muito castigados no inquérito anterior, apresentam uma alteração de tendência no sentido positivo, sendo o primeiro ainda marcado por um ligeiro pessimismo e o segundo por um ligeiro otimismo face às perspetivas de evolução futura. Em contraste, setores como Serviços Financeiros, Tecnologia, Média e Telecomunicações, Transportes & Logística e Turismo & Viagens registaram uma quebra significativa no otimismo desde a última edição do estudo, refletindo uma maior incerteza quanto à evolução das receitas, sendo os dois últimos particularmente sensíveis à incerteza geopolítica e tarifária.
Em Portugal, a transformação digital mantém-se como a principal prioridade estratégica para os próximos 12 meses, refletindo um compromisso com a criação de valor a longo prazo. Embora a digitalização continue a liderar, cresce a relevância das estratégias defensivas, com a redução de custos a assumir agora maior importância, superando o crescimento orgânico como segunda prioridade. Neste contexto, a sustentabilidade e os temas ESG registam as maiores taxas combinadas de adiamento ou redução de investimento (19% na Europa e 18% em Portugal), o que indica que estas áreas estão a perder espaço na agenda dos CFO, face às atuais pressões económicas. Esta alteração de prioridades revela uma gestão estratégica focada em reforçar a resiliência no curto prazo, sem comprometer a ambição de crescimento a longo prazo.
Contratação em abrandamento
O sentimento em relação à contratação entre os CFOs europeus diminuiu abruptamente, com a maioria a prever uma redução da força de trabalho, resultando num saldo líquido negativo de -10, face a +8 registados no outono passado. Portugal acompanha a tendência europeia de retração, embora com um impacto menos acentuado: o saldo líquido de sentimento sobre a contratação desceu de +16 no outono passado para +1 entre os CFO em Portugal.
Riscos geopolíticos no topo das preocupações
Os riscos geopolíticos continuam a ser a principal preocupação dos CFO em Portugal, em linha com o resto da Europa. A geopolítica encontra-se entre os três principais riscos em 86% dos países inquiridos, o valor mais elevado desde que a Deloitte iniciou o inquérito em 2015, ultrapassando até os níveis observados em 2022, aquando da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Em Portugal, 63% dos líderes financeiros identifica impactos nas cadeias de abastecimento e 61% nas vendas por conta da instabilidade geopolítica, valores superiores à média europeia (48% e 53%, respetivamente). Ainda assim, 72% afirmam que estes riscos não prejudicam, ou apenas o fazem de forma limitada, a sua capacidade de alcançar os objetivos estratégicos.
Neste contexto, Portugal é mesmo o segundo país a reportar o nível mais alto de incerteza na Europa (79%), ultrapassado apenas pelo Reino Unido (93%). Portugal destaca-se também como o país com menor apetência para assumir riscos: 91% dos CFO consideram que este não é o momento adequado para assumir maiores riscos no balanço, comparativamente com 82% a nível europeu.














