Centros de fraude em Mianmar estão em enorme crescimento: 100 mil pessoas traficadas dedicam-se a golpes online

Mianmar, Camboja e Laos tornaram-se, nos últimos anos, paraísos para sindicatos do crime transnacional que administram centros fraudulentos como o KK Park, que usam trabalhadores escravizados para executar esquemas complexos de fraude e golpes online que geram enormes lucros

Francisco Laranjeira
Setembro 8, 2025
15:30

Operados por sindicatos do crime e fomentados pela junta militar do país, o número de grandes complexos como o KK Park, na fronteira entre Tailândia e Mianmar, duplicou desde 2021. Há cinco anos, o KK Park, com 210 hectares, era pouco mais do que campos vazios. Atualmente, relatou o jornal ‘The Guardian’, parece um campus de um tecnológica de Silicon Valley: é a linha da frente de uma indústria criminosa de fraudes multibilionária alimentada pelo tráfico de pessoas e violência brutal.

Mianmar, Camboja e Laos tornaram-se, nos últimos anos, paraísos para sindicatos do crime transnacional que administram centros fraudulentos como o KK Park, que usam trabalhadores escravizados para executar esquemas complexos de fraude e golpes online que geram enormes lucros. Houve tentativas de reprimir os centros e resgatar os trabalhadores, que são submetidos a torturas. No entanto, apontou o jornal britânico, o número de centros a operar ao longo da fronteira mais do duplicou desde que os militares de Mianmar tomaram o poder em 2021.

Segundo dados do Instituto Australiano de Política Estratégica (Aspi), um centro de estudos de defesa em Camberra, o número de centros de fraudes em Mianmar na fronteira com a Tailândia aumentou de 11 para 27, e expandiram o tamanho numa média de 5,5 hectares por mês.

No complexo de Tai Chang, por exemplo, surgiram estruturas adicionais ao longo do último ano, incluindo uma doca flutuante construída nos últimos meses para facilitar o transporte de abastecimentos da Tailândia. Imagens de drones do ‘The Guardian’ também mostraram quadrados brancos visíveis nos telhados de Tai Chang e do Parque KK, que provavelmente recetores de internet via satélite. A intenção é que permaneçam online após a Tailândia ter cortado o fornecimento transfronteiriço de eletricidade, internet e gás para áreas que abrigam centros de golpes no início deste ano, na tentativa de desativá-los e deter os gangs criminosos. As autoridades tailandesas já declararam que o Starlink, serviço de internet via satélite de Elon Musk, está sendo usar pelos golpistas e intercetaram terminais contrabandeados.

Foram também exibidas imagens de outros centros de golpes em Mianmar que mostram fortificações e sistemas de segurança: de acordo com a análise da Aspi, o complexo do Parque Dongmei é cercado por cercas e protegido por um posto de controlo e torres de vigilância perimetrais.

Os locais também oferecem uma variedade de instalações para funcionários seniores e visitantes. Em alguns complexos, são reservadas moradias de luxo para “equipas de gestão” dos trabalhadores, ou usadas como cenário para videochamadas com as vítimas, para convencê-las de que estã ao falar com alguém extremamente rico, cujos conselhos de investimento devem seguir.

Relatos sombrios sobre o tratamento dado aos trabalhadores traficados presos dentro dos centros ganharam cada vez mais atenção global nos últimos meses, com aqueles que conseguiram escapar a relatar a extrema violência, tortura e punições que sofreram nas mãos dos chefes dos centros fraudulentos.

Cerca de 7.000 pessoas foram libertadas dos complexos no início deste ano, através de um complexo esforço de resgate que envolveu a vizinha Tailândia, a China e outros países cujos cidadãos ficaram presos, bem como os militares de Mianmar e grupos armados que controlam as áreas de fronteira.

No entanto, de acordo com os especialistas, isso é apenas uma gota no oceano. A polícia tailandesa estimou no início deste ano que cerca de 100.000 pessoas estavam detidas em centros de golpes em Mianmar, ao longo da fronteira comum entre os dois países.

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