Vantage Towers: Um papel de relevo na transformação digital

Com presença em dez países da Europa, a Vantage Towers conta, actualmente, com mais de 82 mil sites em Portugal, Alemanha, Espanha, Grécia, República Checa, Roménia, Hungria, Irlanda, Itália e Reino Unido – os dois últimos através de joint ventures. Com sede na cidade alemã de Dusseldorf, está cotada na Bolsa de Valores de Frankfurt desde 2021. Para Paolo Favaro, Administrador Executivo da Vantage Towers Portugal, o objectivo é conseguir um crescimento orgânico num país onde pretendem que a sua infraestrutura, construída para responder a finalidades industriais, seja «implementada e gerida de forma sustentável e orientada para as pessoas, com o forte compromisso de minimizar o impacto ambiental e optimizar todas as operações que envolvem este mercado, proporcionando uma verdadeira digital experience aos clientes e parceiros ». Nesta entrevista, Paolo Favaro explica como é que esta empresa focada na construção, operação e gestão de torres e infraestruturas dedicadas a utilizar por operadores de redes móveis (MNOs), entidades públicas e clientes de diversos sectores, pretende ter um papel de relevo e funcionar como um facilitador da Transformação Digital que Portugal atravessa.

Como considera que o mercado das telecomunicações tem vindo a evoluir em Portugal?
Penso que o mercado mudou muito nos últimos cinco anos e vai mudar mais no futuro. No meu entender, o que determinou essas mudanças foram factores como a entrada de novos players, que é o nosso caso, pois somos uma empresa de torres. No passado, não existia este tipo de players. E isso fez com que os MNO (operadores de redes móveis), como a Vodafone, NOS e MEO tenham decidido desfazer- -se das suas infraestruturas que foram adquiridas por players como nós, com quem passaram a trabalhar. Ou seja, o ecossistema ficou maior. Por outro lado, o leilão de 5G trouxe novas entradas no mercado, que acrescentaram pelo menos mais um operador aos três MNOs já existentes, uma vez que a Vodafone adquiriu outro dos operadores a concurso, a Nowo.
Depois, tivemos uma pandemia, o que não ajudou e presenciámos muitas outras situações, como o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e outros financiamentos públicos da UE, com o apoio do regulador, a ANACOM, para conseguir cobrir as zonas brancas onde não existe cobertura. Quando juntamos todas estas variáveis, percebemos que tudo está a mudar. Há cinco anos estávamos num momento em que as operadoras tentavam obter cobertura, para optimizar o 4G, mas a maior parte do foco estava na fibra: não é por acaso que Portugal é provavelmente um dos países do mundo ocidental com maior nível de fibra, mas do ponto de vista da mobilidade, penso que as coisas estiveram um pouco calmas, ao passo que actualmente a actividade aumentou bastante. Assim, e resumindo, novos players, novas demandas, novas tecnologias, uma maior necessidade de modernização e actualização da infraestrutura existente. Quando combinamos todos estes pontos, percebemos que algo mudou bastante, dando lugar a novos players, novos relacionamentos a serem definidos e outras formas de trabalho a serem criadas. É um momento interessante para Portugal, há muito a fazer e muita possibilidade de ser criativo. Sendo um estrangeiro, é emocionante estar neste país e tentar realmente expandir o nosso negócio. Começámos há pouco tempo mas o meu objectivo é, obviamente, crescer.

Quais são, então, os principais desafios para a Vantage Towers em 2023?
Cheguei a Portugal em 2020. Antes disso, vivi no Reino Unido e durante vários anos trabalhei na criação desta empresa, a partir do Reino Unido. Agora, tenho o privilégio de estar aqui e ter dado início às operações locais. Portanto, 2023 será um ano de crescimento. E esse crescimento já está a acontecer, devido a uma série de factores, como projectos de grande dimensão que temos vindo a colocar em acção nos últimos anos e que vamos continuar a desenvolver. Para ser mais específico, em 2020, dois dos grandes operadores, nomeadamente a Vodafone e a NOS, celebraram um acordo de partilha de activos, e nós estamos a ajudar ambos os clientes a oferecer a infraestrutura comum que hospeda os seus sites. Este projecto já começou há algum tempo e vai continuar a desenvolver-se. Paralelamente, estamos a preparar a infraestrutura para o 5G e existem outros sites em que as actualizações são necessárias – estamos a fazê-lo para a Vodafone, MEO e NOS.

No campo do 5G, qual a estratégia para o mercado português?
Segundo uma notícia, a Anacom publicou em Dezembro a existência de cerca de 6000 sites 5G em todo o país, sendo que 98% dos concelhos já estão cobertos, assim como 49% das freguesias. A Vantage Towers contribuiu para isso, mas ainda existe mais trabalho a ser feito.
Outro dos drivers que vai nos ajudar a crescer são as obrigações de cobertura que as operadoras “herdaram” como resultado do leilão 5G. De acordo com a forma como foi estruturado, o leilão de 5G define que quem adquiriu frequências de 5G, tem a obrigação de fornecer cobertura de uma determinada forma e os locais de instalação para fornecer cobertura são agendados ao longo de um cronograma específico. Nesse sentido, existem dois marcos principais: o primeiro é em Dezembro de 2023 e o seguinte é em Dezembro de 2025. Portanto, e para estarmos prontos em Dezembro de 2023, já estamos a construir novos sites e isso representa uma extensão do nosso portfólio. Actualmente, temos mais de 3500 sites em Portugal continental e ilhas, e estamos a criar novos sites para ajudar os nossos clientes a cumprirem as obrigações de cobertura, além de ajudar potencialmente outros clientes a juntarem-se e a colocarem os seus equipamentos nas nossas torres. Estamos a crescer nesse sentido e estamos também a crescer enquanto estrutura, e isso significa que estaremos muito ocupados a preparar e a actualizar toda a infraestrutura. Ao mesmo tempo, estamos obviamente a olhar para novos clientes e a pensar em novos produtos, para os quais contamos com a vasta experiência que temos em diferentes países. Resumindo, queremos garantir que entregamos todos os projectos em desenvolvimento, pretendemos introduzir novos produtos e tudo isso vai impulsionar o crescimento colectivo. Esse vai ser o nosso 2023.

Neste momento, que produtos ou serviços oferece a Vantage Towers ao mercado?
O nosso core business é essencialmente construir, operar, manter e alugar espaço nas nossas torres. Se houver necessidade, construímos novos sites ou podemos apenas actualizar a infraestrutura existente, garantindo que o site seja adequado para hospedar a nova tecnologia. Fazemos toda a engenharia e o design, através de fornecedores e parceiros. Seja “apenas” uma actualização ou a criação de novas estruturas, trabalhamos com os nossos clientes para encontrar soluções que reduzam o consumo de energia. Também estamos a explorar outros produtos noutros países, relacionados com a instalação de carregadores de veículos eléctricos nos nossos sites, para que seja possível conectá-los e carregá-los. Temos intenção de ampliar o nosso portfólio e investir noutras áreas, como cidades inteligentes, mobiliário urbano, entre outros. Precisamos de estar atentos e ter um acervo saudável de produtos e ideias para que a empresa possa crescer ainda mais. Para nós, a estratégia resume-se ao crescimento orgânico, que é o que torna uma empresa confiável e um bom fornecedor para os nossos clientes. Acrescentaria, ainda, que esse reconhecimento foi bastante explícito no mercado de acções, uma vez que somos uma empresa cotada na Bolsa de Frankfurt desde 2021. Ao olharmos para a evolução do preço das acções, é visível uma subida consistente apesar de toda a turbulência e dos problemas que se verificaram no ano passado, marcado pelo início de uma guerra na Europa.

Quem são actualmente os clientes da Vantage Towers?
Os operadores de redes móveis são os nossos principais clientes e a realidade é que podemos ter mais de um MNO no mesmo site. O nosso negócio é construir a infraestrutura na qual existe este tipo de economia de partilha, que é o que o regulador também pretende. Os MNOs estão presentes em todo o nosso portfólio. No entanto, estamos a olhar para as mudanças nos mercados, de forma a potencialmente explorar novas oportunidades comerciais.

Uma vez que o 5G irá coabitar com as restantes tecnologias existentes (2G/3G/4G), que desafios de implementação tecnológica podem surgir?
Nesta fase, provavelmente o desafio tem a ver com garantir que os detentores de direitos autorais cumpram as obrigações para fornecer e estabilizar o serviço, para que a base de clientes possa realmente beneficiar do 5G. A optimização da rede é o principal desafio, mas estou a dar respostas que deveriam ser os operadores a dar. Na minha opinião tem realmente a ver com a optimização da ede e das frequências porque, em algum momento, as frequências serão desligadas. É necessário assegurar que existe um bom trabalho de engenharia, planear tecnologias que vão ajudá-los a controlar toda a pegada com custos apropriados e de uma forma sustentável, certificando-se de que introduzem tecnologias que são cada vez mais eficientes do ponto de vista energético.

Que áreas poderão beneficiar mais com a chegada do 5G?
A saúde, sem dúvida. Custo e transmissão de dados de pacientes para os médicos, monitorização constante ou acesso a consultas num local remoto com serviços de baixa frequência, certificando-se de que estas tecnologias podem trabalhar em conjunto. A segunda é, por exemplo, o segmento da logística e trabalho de fábrica. Assisti a uma conferência há algum tempo onde falavam de o 5G estar a ser usado num dos portos em Portugal para optimizar o processo de carregamento e descarregamento dos navios e o respectivo armazenamento através de veículos automatizados e controlados através de tecnologia 5G. Por outro lado, acho que o sonho vai ser observar os veículos autómatos, que se conduzem sozinhos, para os quais é imprescindível ter uma conectividade estável e de confiança. Estou a referir apenas alguns dos sectores porque, na realidade, existem cada vez mais possibilidades de uso desta tecnologia e que neste momento não estamos a ter ideia.

A Vantage Towers fez uma parceria com a portuguesa Smartlamppost. Em que consiste este acordo?
Sim, é verdade que apresentámos essa parceria há algum tempo e estamos a explorar com eles como podemos trabalhar em conjunto para tirar o maior proveito das competências de cada uma das empresas. Somos uma empresa focada em gerir a infraestrutura que está apta para serviços de telecomunicações. A Smartlamppost é uma empresa nacional e, como o nome indica, de postes de iluminação que podem integrar diversos serviços e diferentes aplicações, como carregadores EV, sensores para monitorizar a qualidade do ar, outros equipamentos IoT ou ecrãs inteligentes para acesso a outros serviços. Podemos encarar estes postes como podendo substituir os postes tradicionais, mas com a possibilidade de alocar mais serviços de telecomunicações e, nesse sentido, trabalhamos com eles de forma a perceber como podemos operacionalizar e ajudar os municípios a resolver algumas questões para se tornarem smart cities. Temos um projecto a decorrer que faz parte da estratégia de encontrarmos novos produtos.

Considera que está no sítio certo, no tempo certo?
Penso que Portugal, de uma perspectiva profissional, é um local fantástico para estar, neste tempo específico. Muitas coisas estão a mudar e a acontecer, e é óptimo estar no meio disso. Estou muito motivado para fazer o meu melhor e contribuir para o crescimento da empresa.
Pessoalmente, não podia estar mais feliz pois penso que é um grande país e cada vez gosto mais de aqui estar. Ser italiano ajuda, pois as minhas raízes ajudam-me a perceber melhor como tudo funciona. Portugal é um país lindo.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “5G / O mundo da conectividade”, publicado na edição de Fevereiro (n.º 203) da Executive Digest.

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