Estratégias de internacionalização
Nelson ribeiro acaba de ser reconduzido no cargo de director da faculdade de ciências humanas da universidade católica portuguesa
Na cerimónia da tomada de posse, o director destacou a centralidade dos conceitos de inovação e mudança no projecto que a nova direcção irá implementar neste mandato, salientando que a Faculdade de Ciências Humanas (FCH) continuará a ser uma faculdade capaz de desenvolver ofertas formativas pioneiras e que acrescentem valor ao sistema de ensino superior em Portugal. E
m entrevista, Nelson Ribeiro refere que a internacionalização e o impacto da investigação manter- -se-ão como eixos centrais do projecto a desenvolver pela nova direcção que, além de Nelson Ribeiro, écomposta por Alexandra Lopes (directora-adjunta), Ana Margarida Abrantes e Inês Bolinhas.
Relativamente às ambições para o novo mandato, quais são os projectos centrais na estratégia delineada para os próximos anos?
A nossa estratégia passa por melhorar o posicionamento da nossa escola e dos nossos cursos em rankings internacionais. Para tal, iremos implementar uma política integrada de gestão de ciência, que garanta maior visibilidade ao conhecimento que é produzido nos centros de investigação da faculdade. A nossa investigação tem um impacto internacional, em diversas redes científicas, mas precisamos de melhorar o modo como é comunicado junto de diferentes públicos. Paralelamente, prevemos lançar novos cursos, alguns dos quais em parceria com instituições internacionais; pretendemos igualmente introduzir inovação nos nossos programas de mentoring e jobshadowing que se têm revelado uma grande mais-valia para os nossos alunos, permitindo-nos também uma aproximação maior às necessidades e preocupações das empresas e instituições recrutadoras.
Em que se traduzirá esta estratégia de internacionalização?
O aprofundamento e a diversificação das estratégias de internacionalização serão apostas da FCH nos próximos anos, com o objectivo de aumentar o número de estudantes estrangeiros, que cresceu cerca de 40% nos últimos três anos. Paralelamente, iremos continuar a oferecer possibilidades de internacionalização diferenciadoras aos nossos estudantes portugueses. Além da mobilidade Erasmus e da realização de estágios noutros países europeus, os alunos de Licenciatura podem agora frequentar um semestre em universidades nos EUA, à semelhança do que era já possível para alunos de Mestrado, nomeadamente na área das Ciências da Comunicação. Estamos também a expandir a nossa rede de intercâmbios na América do Norte e na Ásia, sobretudo nos países em franco crescimento económico como China, Japão e Coreia do Sul. Estamos igualmente a melhorar a colocação dos nossos estudantes em estágios e empregos no estrangeiro, dado termos um número crescente de alunos a desenvolver carreiras internacionais que procuramos fomentar ao longo da licenciatura.
Alguns dos programas de mestrado da FCH estão bastante bem posicionados em rankings internacionais. De que forma pretendem integrar este tema na estratégia dos próximos anos?
Continuaremos a melhorar a posição dos nossos mestrados em rankings internacionais, nomeadamente do Mestrado em Estudos de Cultura, considerado o 4.º melhor do mundo, e do Mestrado em Ciências da Comunicação, classificado no top 15 da Europa, de acordo com a Eduniversal, na área de Comunicação, estando também na 19.ª posição na área de Marketing. Mantermo-nos entre os melhores do mundo é exigente, mas apostamos continuamente num corpo docente altamente qualificado, que participa emredes e projectos de investigação internacionais, e que tem paixão pelo ensino. Paralelamente, temos uma relação cada vez mais próxima com o mercado de trabalho pois uma das nossas preocupações é a de sermos um parceiro de referência para as empresas e instituições que procuram contratar uma nova geração de talentos capazes de promover a inovação.
Esse reconhecimento internacional tem-se traduzido em resultados para a FCH?
É um reconhecimento importante que confirma a qualidade do nosso ensino e que é também comprovado pelos excelentes níveis de empregabilidade dos nossos alunos. De ano para ano, tem aumentando a procura dos nossos programas por parte de candidatos estrangeiros, oriundos sobretudo da Alemanha, Suécia e Itália, mas também de diversos países na Ásia, América do Norte e América do Sul.
Quanto à oferta formativa, que inovações estão a ser delineadas?
No imediato, estamos a consolidar alguns dos nossos cursos, como o Mestrado em Estudos Asiáticos, que terá agora uma extensão na China, o Mestrado em Psychology in Business and Economics, uma oferta inovadora em Portugal e que tem atraído um número muito significativo de estudantes estrangeiros, e o Mestrado em Psicologia do Bem-Estar e de Promoção da Saúde. Estes dois últimos cursos são oferecidos em parceria com outras escolas da universidade, nomeadamente a Católica Lisbon School of Business & Economics e o Instituto de Ciências da Saúde. Na área das línguas e literaturas temos dois novos programas de mestrado: Linguística para Professores de Inglês Língua Estrangeira e Português Língua Estrangeira/ Língua Segunda.
A Faculdade tem também feito uma aposta em Escola de Verão e de Inverno para alunos internacionais. Pode falar sobre a mais-valia que trazem para a FCH?
A Summer School for the Study of Culture, que vai agora na sua 9.ª edição, junta em Lisboa, todos os anos, mais de uma centena de estudantes de doutoramento, artistas e académicos reputados nas áreas da literatura, cultura e estudos artísticos. É um evento que faz já parte da agenda internacional na área de Estudos de Cultura e que se afigura como uma actividade central da FCH que é a sede do Lisbon Consortium, uma rede que junta a academia com as principais instituições culturais. Já em 2019, tivemos a 1.ª edição da Lisbon Winter School for the Study of Communication dedicada ao tema “Media and Populism”, estando a 2.ª edição calendarizada para janeiro de 2020. A Winter School é organizada pela FCH, concretamente pelo Doutoramento em Ciências da Comunicação, em parceria com o Center for Media@Risk da University of Pennsylvania, a London School of Economics and Political Science, a Chinese University of Hong Kong e a University of Helsinki.
Referiu também que o corpo docente da FCH participa em redes e projectos com impacto internacional. A que se refere concretamente?
Os centros de investigação da FCH têm conseguido captar um volume crescente de financiamento competitivo para o desenvolvimento de projectos de investigação. Um exemplo é o projecto “4Cs: From Conflict to Conviviality through Creativity and Culture”, do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da FCH, que conta com parceiros de sete países europeus e que visa compreender de que modo a formação e a educação em arte e cultura se podem constituir como recursos poderosos para solucionar questões de conflito. O projecto, financiado pela Comissão Europeia, aborda igualmente o contributo das instituições artísticas para o diálogo intercultural, tendo um orçamento global de 3,7 milhões de euros. O Centro de Estudos de Comunicação e Cultura é igualmente parte do projecto europeu COMPACT – Social Media and Convergence, que visa propor novos instrumentos regulatórios para o ambiente digital no espaço europeu, contando com um financiamento de cerca de 1 milhão de euros. Poderia também citar outros projectos em curso, nomeadamente nas áreas da Psicologia e das Ciências Sociais, que, além de um elevado valor científico, dão um contributo real para a melhoria da qualidade de vida de diferentes populações.
Fica claro que a Faculdade de Ciências Humanas oferece cursos em áreas muito diferenciadas. Existe alguma marca específica transversal a todas as vossas formações?
Na FCH, o nosso objectivo é formar pessoas e cidadãos completos, e não apenas técnicos e quadros qualificados. Isso leva-nos a apostar muito no desenvolvimento do espírito crítico, do sentido ético e da criatividade dos nossos estudantes, o que acredito ser uma marca da escola. À medida que a inteligência artificial se desenvolve, o pensamento crítico, a compreensão das emoções e dos mecanismos de persuasão passam a ser competências essenciais para quem pretende contribuir para moldar o futuro da sociedade e das instituições. Por outro lado, à medida que as nossas sociedades ficam mais desiguais e polarizadas, urge sermos capazes de formar pessoas integras capazes de compreender e propor novos modelos de sociedade que possam debelar estas divisões, cidadãos participativos e informados investidos em construir um mundo mais inclusivo.