Continente: Apoio à produção nacional
Para além do cumprimento legal no que respeita à qualidade e segurança alimentar, o Continente procura e aceita produtores que ofereçam produtos diferenciadores e que estejam disponíveis para uma parceria duradoura. Em entrevista à Executive Digest, Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores Continente (CPC), explica os principais desafios e oportunidades do CPC, quando celebra este ano 25 anos de promoção e apoio à produção nacional.
A Sonae MC desenvolve, desde 1998, uma relação próxima e profícua com produtores do sector agroalimentar e agropecuário. Que balanço faz desta relação?
A relação da MC com os nossos produtores, através do Clube de Produtores Continente, está assente num modelo único a nível europeu. É baseada numa constante parceria, focada no nosso objectivo de disponibilizar produtos nacionais de excelência aos nossos clientes. Esta estratégia de parceria traduz-se na partilha de conhecimento sobre o nosso negócio, os nossos clientes, tendências de consumo, legislação europeia sobre sustentabilidade e até mesmo conhecimento técnico-científico, que advém do nosso Conselho Científico constituído por investigadores do sistema cientifico-tecnológico nacional.
Como caracteriza actualmente o Clube de Produtores Continente?
O Clube de Produtores Continente celebra este ano 25 anos de promoção e apoio à produção nacional. É por isso uma entidade com muita maturidade e conhecedora das oportunidades e desafios do sector agroalimentar português. Este apoio, como já referido anteriormente, traduz-se num acompanhamento muito próximo e que decorre ao longo do ano, junto dos nossos 267 produtores. O perfil dos nossos produtores é muito diversificado, podendo ser pequenas empresas familiares e até organizações de produtores que também cresceram connosco.
Em 2022, o Clube dos Produtores do Continente comprou 519 milhões de euros de produtos nacionais certificados, mais de 22,6% do que em 2021. Estamos a falar de 240 mil toneladas de bens vendidos nas nossas lojas. Produtos de alta qualidade de sectores como talho, frutas e legumes, charcutaria e queijos, padaria e pastelaria, peixaria, take away, azeite, arroz, leguminosas, mel e compotas, pasta e patés, farinhas, congelados, ovos, produtos lácteos e vinhos e empregam cerca de 11 000 pessoas, directas e indirectas, através de mais de 200 000 hectares de área produtiva.
Qual a vossa missão em relação ao tema do desperdício alimentar?
Desde 2020, que o nosso grande objectivo é trazer o tema da sustentabilidade para o nosso plano de acção. Em 2021, o Clube de Produtores Continente estabeleceu uma Declaração para a sustentabilidade para os seus membros. Este é um compromisso alinhado com o 12.º Objectivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU (produção e consumo sustentáveis), com a estratégia europeia “do Prado ao Prato” (sistema alimentar justo, saudável e respeitador do ambiente), e com o Roteiro para Neutralidade Carbónica 2050.
É nesta marcha pela promoção da produção e consumo sustentáveis e um sistema alimentar que respeita o ambiente que integramos também a missão de combater o desperdício alimentar. “Nada se perde, tudo se transforma” é o mote da Feira do Desperdício, a nova plataforma criada pelo Clube de Produtores Continente (CPC) para combater o desperdício alimentar na produção.
Para utilização exclusiva dos membros e parceiros do CPC, a Feira do Desperdício é lançada com a missão de facilitar parcerias entre os produtores, a indústria, o retalho e a investigação, criando, assim, a possibilidade de dar uma segunda vida aos excedentes gerados pela produção de alimentos.
Ao juntar a oferta e a procura num único local, a Feira do Desperdício (https://feiradodesperdicio.continente.pt/) põe em contacto potenciais interessados e impulsiona a inovação de produtos e processos. Todos os princípios da Declaração para a Sustentabilidade do CPC têm data de implementação definida, até 2024, e a Feira do Desperdício vai contribuir para alcançar estes objectivos. Porque “nada se perde, tudo se transforma”
O que é necessário para pertencer ao Clube?
Para além do cumprimento legal no que respeita à qualidade e segurança alimentar, o Continente procura e aceita produtores que ofereçam produtos diferenciadores e que estejam disponíveis para uma parceria duradoura. Avaliamos a capacidade em responder à procura, garantindo, assim, uma oferta estável e consistente ao longo do tempo, mesmo que seja apenas para algumas lojas.
Estamos, cada vez mais, comprometidos com práticas sustentáveis quer nas explorações agrícolas ou agropecuárias quer nas indústrias transformadoras. Os produtores que se querem juntar a nós, desafiamos a integrar estes princípios nas suas operações. Por exemplo, o produtor agrícola que entrar para o Clube de Produtores Continente terá de cumprir com a certificação GLOBALG.A.P. que promove boas práticas agrícolas. Estamos a fazer o movimento para todos conseguirem obter a certificação Resíduo Zero, que salvaguarde princípios de sustentabilidade relacionados com a biodiversidade, a saúde dos solos e a segurança alimentar.
No processo de selecção dos produtores para o Clube de Produtores Continente também são consideradas a inovação e diferenciação: os nossos produtores também são escolhidos por oferecerem produtos inovadores e diferenciados, que possam satisfazer as necessidades e tendências de consumo do mercado. No entanto, não invalida que tenhamos produtores de produtos tão simples como cenouras ou batatas, mas que estão disponíveis para inovar, por exemplo na embalagem, ou em variedades mais interessantes para os nossos clientes.
Na MC investem de forma contínua numa relação de proximidade, confiança e respeito com os fornecedores, visando garantir produtos e serviços de elevada qualidade. Qual a importância do CPC em toda esta estrutura?
O Clube de Produtores Continente oferece, também, orientação e assistência técnica aos produtores, ajudando-os a melhorar as práticas agrícolas e a aumentar a eficiência da produção. Temos, ainda, procurado estabelecer parcerias com pequenos produtores, muitas vezes cooperamos com associações regionais e sectoriais. Deste modo, estes produtores, conseguem chegar ao mercado de forma mais eficiente.
A qualidade dos produtos e a preocupação pelo meio ambiente são sempre uma constante. Procuramos, por isso, incentivar e apoiar um uso eficiente de recursos naturais. Por exemplo, até ao momento temos 13 produtores certificados e 25 em processo de Certificação Resíduo Zero. Deste modo a oferta de frutas e legumes nacionais é livre de resíduos de pesticidas no momento da colheita (segundo Regulamento Europeu 396/2005 e inferior ao limite quantificável de 0,01 ppm). Promovemos um menor consumo energético, menores emissões e maior controlo sobre aspectos microbiológicos, no que respeita à saúde dos solos. Estas são questões-chave no que respeita à segurança alimentar e integração com o meio ambiente, garantindo a sustentabilidade de todo o sistema agrícola.
O nosso objectivo é valorizar os nossos produtores e a qualidade dos seus produtos, promovendo-os nas lojas Continente.
Aumentar a produtividade agrícola pela inovação e tecnologia é também uma das preocupações do Continente. Como têm acelerado a competitividade e a sustentabilidade dos vossos produtores?
Ao longo do ano, vamos criando espaços de transferência de conhecimento junto dos nossos produtores, trazendo a academia e peritos para apresentar possíveis soluções e, com isto, anteciparmos situações que possam impactar negativamente na nossa cadeia de abastecimento.
Vamos, por isso, continuar a investir na produção nacional, apoiando os nossos produtores, com inovação científica, com formação, comprando os seus produtos, aumentando a competitividade de todos e, consequentemente, dinamizando a economia do país.
O perfil de consumo dos portugueses alterou-se ao longos dos anos? De que forma?
Actualmente, presenciamos um novo paradigma e no mundo da nutrição e alimentação, têm surgido novas tendências, exigências e expectativas por parte dos consumidores. A alimentação é um tema central no nosso quotidiano. O que comemos tem impacto na nossa saúde e bem-estar assim como no ambiente. Por outro lado, as nossas escolhas são também impactadas por questões económicas e políticas.
Em relação aos consumidores dos produtos do Continente, garantimos os melhores padrões de qualidade e de segurança alimentar.
Vamos continuar a adaptarmo-nos às novas circunstâncias que nos vão sendo apresentadas nestes tempos de incerteza, colocando sempre o cliente no centro das nossas prioridades. Seremos, sempre, proáctivos na procura de oportunidades futuras, garantindo a manutenção da nossa posição de liderança e trabalhando em parceria com os produtores nacionais.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Agricultura”, publicado na edição de Julho (n.º 208) da Executive Digest.