
Calçado “Made in” Portugal na vanguarda
A indústria portuguesa do calçado afirma-se como um dos sectores mais dinâmicos da economia nacional, conjugando tradição, inovação e uma forte vocação exportadora. Com mais de 90% da produção destinada a mercados externos — abrangendo 170 países nos cinco continentes — o calçado “Made in Portugal” tem vindo a consolidar a sua reputação internacional, impulsionado por uma estratégia robusta de modernização e diferenciação.
Segundo Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS, a indústria portuguesa de calçado exporta actualmente mais de 90% da sua produção e o mercado europeu continua a ser o principal destino, com destaque para países como Alemanha, França, Holanda e Reino Unido. No entanto, adianta o mesmo, «é fora da Europa que o crescimento mais se faz sentir, particularmente nos Estados Unidos, onde as vendas duplicaram nos últimos anos, ascendendo a valores na ordem dos 100 milhões de euros anuais».
Esta forte presença internacional é sustentada por uma estratégia definida no novo Plano Estratégico da APICCAPS, que ambiciona tornar Portugal «a referência internacional da indústria de calçado», aliando sofisticação, criatividade e eficiência produtiva a uma gestão da cadeia de valor sustentável. Este plano prevê investimentos na ordem dos 600 milhões de euros até ao final da década, nas áreas da qualificação, da inovação, da sustentabilidade ou da internacionalização. «Trata-se do maior investimento de sempre do sector e uma grande prova na confiança desta indústria», admite Paulo Gonçalves.
TECNOLOGIA AO SERVIÇO DAS EMPRESAS
O Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP) tem desempenhado um papel estratégico no apoio técnico às empresas do sector do calçado e marroquinaria em Portugal. Fundado pela APICCAPS e dois institutos do Ministério da Economia, o IAPMEI e o INETI, a partir do Laboratório de Controlo de Qualidade criado em 1981, a sua actuação tem-se centrado na promoção da inovação, competitividade e sustentabilidade da indústria, adaptando-se continuamente às exigências do mercado global.
Fundado em 1986, tem sido um parceiro estratégico na evolução do sector. Com competências em inovação tecnológica, qualidade, sustentabilidade, formação e digitalização, o CTCP acompanha as empresas em todos os desafios da transformação industrial. «O nosso compromisso é continuar a apoiar a indústria do calçado português a destacar-se no cenário internacional, mantendo-se na vanguarda da inovação», sublinha Luísa Correia, directora-geral do Centro Tecnológico do Calçado.
A sua actuação abrange desde o desenvolvimento de novos materiais sustentáveis – como biomateriais, couro vegetal e compostos reciclados – até à promoção de tecnologias de Indústria 4.0, como automação, impressão 3D e inteligência artificial. Presta, também, apoio técnico e consultoria, com foco em áreas como ecodesign, descarbonização, eficiência energética e digitalização.
A sustentabilidade tornou-se, igualmente, um pilar central da estratégia da indústria. «As empresas do Cluster do Calçado estão totalmente alinhadas e comprometidas com este princípio, encarando a sustentabilidade como um factor essencial para o futuro da indústria», afirma a mesma responsável. Nesse sentido, o CTCP apoia a transição ecológica através do desenvolvimento de produtos sustentáveis, optimização de processos produtivos, economia circular, certificações ambientais e acções de formação.
Para acelerar a modernização do sector, promovendo a bioeconomia, tecnologias avançadas e a capacitação de recursos humanos, e no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o Cluster do Calçado e da Moda viu aprovados dois grandes projectos: o BioShoes4All e o FAIST.
Com um total de cerca de 100 parceiros e um investimento previsto de 140 milhões de euros, estes projectos são considerados estratégicos e fundamentais para a modernização do Cluster e para contribuir para a transição sustentável e digital, encontrando-se já em fase desenvolvimento e prestes a serem aplicados nas empresas.
INOVAÇÃO COMO ADN DO SECTOR
A capacidade de inovação é reconhecida como uma das maiores mais-valias do sector. Portugal é hoje um dos centros de excelência no desenvolvimento e produção de calçado a nível global. «A adopção de inteligência artificial, robótica colaborativa e sistemas de produção flexíveis tem melhorado a eficiência e a personalização dos produtos», destaca Luisa Correia. A inovação estende-se ao design, à personalização e à criação de novos modelos de negócio, incluindo produção sob demanda e comércio digital.
Com um posicionamento cada vez mais global e sustentável, o calçado português prepara-se para enfrentar e responder aos desafios do futuro.
Apesar de os EUA serem actualmente o 6º mercado para o calçado português, o facto de o sector exportar mais de 90% da sua produção para 170 países permite que não esteja dependente de nenhum mercado específico. Assim, para a APICCAPS, «é uma preocupação particular procurar sempre novos mercados e novos clientes» e a esse propósito, importa realçar que no novo Plano Estratégico do sector foram identificadas como prioritárias 145 cidades em todo o mundo. «Há por isso ainda, muito caminho para desbravar», conclui Paulo Gonçalves.
A colaboração entre a APICCAPS e o CTCP revela-se, por conseguinte, essencial para consolidar a liderança internacional da indústria, garantindo que Portugal se mantém na linha da frente com um sector que combina excelência, tradição, inovação e forte responsabilidade ambiental.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Têxtil e calçado”, publicado na edição de Maio (n.º 230) da Executive Digest.