Apesar de 2025 não estar a ser um ano fácil, a maioria dos estabelecimentos de ensino está a conseguir seguir com o planeado para o negócio. Contudo, as mudanças e evolução daquilo que os alunos – e empresas – exigem estão a pressionar a necessidade de adaptação e evolução.
Os programas customizados, a liderança, a ética, o novo normal de alunos mais velhos, e a escolha entre programas abertos ou customizados foram os temas dominantes do recente pequeno-almoço que reuniu especialistas na área das pós-graduações, MBA e programas para executivos, organizado pela Executive Digest.
Presentes na mesa do hotel Vila Galé Ópera estiveram: Pedro Ferreira, da AESE; Gustavo Mendes, da Porto Business School; Pedro Brito, da Nova SBE; Joana Lopes Moreira, Católica Lisbon School; Sofia Graça, Católica Porto Business School; Mafalda Pescaria, do The Lisbon MBA Católica|Nova; Elisabete Alcobia, ISCTE Executive Education; Maria de Castro, da AESE; e Tiago Guerra, do Técnico+ do Instituto Superior Técnico.
Com uma agenda preenchida com vários assuntos a debater, os participantes começaram a partilhar como correu a primeira metade de 2025. Admitiu-se que não tem sido um ano fácil, contudo, as escolas têm tido capacidade de se adaptarem e seguirem os planos propostos para fazer crescer o negócio. Já num anterior encontro sobre a mesma temática, realizado em Fevereiro, os representantes dos estabelecimentos de ensino afirmaram que a expectativa para 2025 era seguir a linha de crescimento do negócio de anos anteriores.
Um dos temas mais recorrentes nestes debates tem sido o aumento do interesse por programas customizados. A conversa começou mesmo por aí. «Há uma procura de programas desenhados com as empresas. Sempre foi uma área que existiu mas tem crescido muito ultimamente», indicou um dos presentes, acrescentando que essas parcerias passam por desenhar e construir «algo mais focado, uma vez que as empresas indicam que tipo de programa querem para um determinado número de pessoas. A Inteligência Artificial, Finanças, Administração e Ética, estão entre os temas mais pedidos». Contudo, a maioria relembrou que este é um trabalho complexo e exigente e que acarreta mais custos do que os cursos mais generalistas. «Implica ajustar alguns dos programas já existentes ou fazer algo específico, que vai desde desenhar os conteúdos dos cursos à procurar os docentes.»
A discussão desta temática levantou a questão se programas abertos estão agora mais difíceis de preencher? Um dos presentes no pequeno-almoço indicou que os cursos abertos, que existem com maior diversidade, têm tido maior dificuldade, já os cursos com temas pontuais em determinadas pós-graduações, mesmo sendo programas longos, «têm tido um preenchimento mais fácil do que nos últimos dois anos, sobretudo com temáticas mais direccionadas à transformação digital e à inteligência artificial. Os cursos mais clássicos, ou seja, fiscalidade e gestão, estão agora um pouco mais complicados de preencher». Outra representante de uma das universidades presentes no encontro promovido pela Executive Digest indicou que os programas de curta duração, abertos neste último ano, têm corrido melhor do que há dois anos, sublinhando que a formação customizada «cresceu bastante».
ESCOLAS ABERTAS AO MUNDO
Ainda no início do encontro, foi questionada a importância da abertura dos estabelecimentos de ensino ao mercado internacional, concorrendo com outras escolas internacionais. Um dos responsáveis presentes explicou que a sua escola sente o impacto da concorrência internacional, «a concorrência aumentou grandemente, muitas universidades internacionais vêm a Portugal apresentar os seus cursos às empresas e ao cliente final, sobretudo os online». Outra escola confirmou: «Temos sentido muita concorrência internacional, nomeadamente, na formação online, contudo mesmo assim tivemos crescimento na parte de formação de executivos, apesar de sentirmos que, realmente, o mercado é muito competitivo.»
Levantou-se a questão da importância da marca e do nome dessas universidades internacionais têm muita relevância na escolha dos alunos portugueses. «A marca vem sempre em primeiro lugar, é o que faz os alunos procurarem essas escolas, mesmo ao nível das licenciaturas e temos sentido muita concorrência, obviamente, internacional, nacional, e, nomeadamente, na formação online», disse um dos participantes. Foi dado um exemplo de um curso no MIT a preços similares aos nacionais, que numa turma online tinha 690 pessoas. «São realidades diferentes, com outra rentabilidade. » Uma das representantes das escolas presentes no hotel Vila Galé Ópera, em Lisboa, levantou algumas reticências sobre os cursos online: «Quando falamos, por exemplo, da questão do online e da digitalização é óbvio que a nossa escola está a adaptar-se, mas no caso das formações para executivos, há algumas complementaridades feitas online, há alguns exames que possam ser feitos online, mas não desistimos da ideia do presencial. Na nossa oferta achamos que o presencial faz sentido. Fazer um curso no MIT com 680 pessoas online é, para mim, uma coisa estranha. É muito diferente da experiência que nós proporcionamos aos nossos alunos de estar no campus do MIT um mês inteiro. Regressam a Portugal com uma experiência que não é replicável.» E acrescentou: «A questão da liderança fica um pouco restritiva quando falamos em formações online, porque é uma área que requer passar a experiência e não apenas a teoria. É estranho em algumas coisas, fazer- se só online. Para nós, acreditamos que o presencial faz todo o sentido no crescimento das pessoas e, principalmente, no vector da liderança.» Todavia, outro dos participantes discordou indicando que há alunos que vivem já num universo diferente, onde a sua experiência é intimamente digital. «Nasceram no digital. Foi por isso que abrimos um MBA completamente online. Não invalida que não existam momentos para que as pessoas se possam conhecer, mas há quem olhe para o online já de outra forma», sublinhou.
ALUNOS MAIS VELHOS
A demografia foi outro dos temas abordados na reunião. Continua a verificar-se um aumento da média de idades entre os alunos de MBA, pós-graduações e programas de formação para executivos.
«Algumas pessoas chegam a um momento da sua carreira em que precisam de renovar ou acrescentar algo para conseguirem ter uma trajectória diferente da que tiveram », explicou um dos presentes, sublinhando que, mesmo no caso de alunos estrangeiros, começam a surgir candidatos com idades mais avançadas, que vêem em Portugal uma oportunidade de passar um ano a fazer um MBA.
Os participantes concordaram que as pessoas mais velhas regressam à escola precisamente porque sabem que ainda têm caminho para percorrer e querem continuar activas. «Temos algumas pessoas que já possuem a sua própria empresa ou negócio e vêm à escola porque, do ponto de vista académico, lhes faltam competências. Quem tem uma base em engenharia ou ciências, por exemplo, pode sentir necessidade de adquirir conhecimentos de gestão – e num MBA encontra uma forma intensiva de os trabalhar. Por outro lado, há quem tenha ambições de internacionalizar o negócio e reconheça que um MBA pode ajudar nessas competências.» Outra das participantes acrescentou: «Vemos muitas candidaturas de pessoas que já possuem várias pós- -graduações muito específicas. E, cada vez mais, ao nível da estratégia, são necessárias pessoas com capacidade de olhar para o todo, para a floresta. Isto porque os cursos são cada vez mais curtos, mais especializados, e por vezes falta um elemento agregador aos alunos.»
FERRAMENTAS PRÁTICAS
A liderança foi outro dos temas discutidos. À questão “o que estão as empresas à procura nesta área?”, os participantes apresentaram várias ideias. Foi sublinhada a necessidade de existirem ferramentas práticas para utilizar no dia-a-dia. «Olhar para as lideranças com novas variáveis. Uma das coisas que temos sentido é a importância de trazer o tema do pensamento sistémico para a liderança», referiu uma das escolas.
«O contexto está mais difícil e coloca uma pressão que pode ser inibidora do potencial da liderança », foi explicado. Por isso mesmo, esta é uma das temáticas mais procuradas pelas empresas para a criação de cursos e formações. Outros temas que têm surgido com maior frequência são a inteligência artificial, a geoestratégia, a geopolítica e a ética. «As pessoas estão muito curiosas com estas questões. Estamos a entrar numa geração que apenas estudou filosofia durante um ou dois anos e que tem pouco conhecimento da disciplina, começando a questionar-se bastante sobre o propósito das coisas: o que é que se pode fazer ou não se pode fazer.»
A ética, a diversidade e a geopolítica – sobretudo devido aos conflitos económicos e militares que se vivem na actualidade – são assuntos que despertam o interesse dos alunos e para os quais as universidades se estão a preparar.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-graduações & Formação de executivos”, publicado na edição de Setembro (n.º 234) da Executive Digest.














