“O cumprimento dos tempos é crítico”, diz Bernardo Maciel, CEO da Yunit

Não é o setor, a dimensão da empresa ou o orçamento do projeto que dita se a empresa pode ou não concorrer. É sim a qualidade do projeto e os objetivos estratégicos associado.

Em entrevista à Executive Digest, o CEO da Yunit, Bernardo Maciel, explica os principais passos para as empresas serem bem- -sucedidas nas candidaturas ao apoio aos fundos comunitários.

Quais os programas mais direcionados para apoiar as empresas portuguesas no acesso aos fundos comunitários?

Tanto o PRR como o Portugal 2030 disponibilizam às empresas instrumentos altamente relevantes para as dotar de maior competitividade. No âmbito do PRR, as oportunidades mais direcionadas para as empresas estão nas Agendas /Alianças Mobilizadoras /Verdes para a Inovação Empresarial, nas componentes específicas como a Eficiência Energética nos Edifícios, Descarbonização da Indústria, Transição Digital, instrumentos para capitalização do Banco de Fomento e ainda, claro, de forma indireta, via Investimento Público. No que diz respeito ao Portugal 2030, o domínio temático de maior relevo para as empresas é o da Inovação e Transição Digital, que visa, sobretudo, apoiar a digitalização, a inovação, a investigação e desenvolvimento (I&D) e a internacionalização das empresas, com bastante enfoque em temas como transição digital, descarbonização, eficiência energética, economia circular e sustentabilidade.

E os principais desafios que as empresas têm nas suas candidaturas?

Os desafios são diversos, mas logo à cabeça salientava o mito associado aos fundos europeus: “Isto não dá para a minha empresa”. É verdade que existe em alguns setores a ideia de que angariar estes incentivos é difícil para uma PME. No entanto, e recuando ao nosso histórico do PT2020, isso não é necessariamente assim. No último programa- -quadro preparámos projetos em várias destas tipologias, que foram aprovados, para micro, pequenas, médias e grandes empresas, localizadas em diversas regiões, com um investimento de poucas centenas de milhares de euros e outros com orçamentos de milhões. Ou seja, não é o setor, a dimensão da empresa ou o orçamento do projeto que dita se a empresa pode ou não concorrer. É sim a qualidade do projeto e os objetivos estratégicos associados. Temos ainda o tema das fontes de financiamento necessárias e a necessidade de garantir os capitais próprios que suportem a boa execução dos projetos. E, no seguimento da aprovação da candidatura, e com o decorrer do projeto, apresentam-se outros desafios como por exemplo, disporem de estruturas de suporte curtas e sem a experiência adequada para fazer face a todos os compromissos e etapas que asseguram que a aplicação do apoio está a acontecer de acordo com o previsto.

Quais os fatores diferenciadores da vossa consultora face à concorrência?

O nosso propósito é apoiar as empresas a tomar melhores decisões para que possam dar um salto qualitativo no seu crescimento, sobretudo com foco na inovação e reforço de competitividade. O facto de sermos uma PME e termos lógicas e desafios semelhantes aos dos nossos clientes, coloca-nos numa posição privilegiada e de proximidade para sermos capazes de identificar e diagnosticar as mudanças no mercado, traduzi-las para o contexto de cada um dos nossos clientes e apoiar a sua mudança e adaptação. A elevada capilaridade geográfica e setorial dos nossos clientes, a heterogeneidade das competências técnicas das nossas pessoas e a forma cúmplice e solidária com que atuamos junto dos nossos clientes deixam uma marca própria no mercado do que é a Yunit e o que esperar do nosso trabalho. Por fim, e não menos importante, a nossa experiência, só no âmbito do PT2020 apoiamos a execução de 900 projetos de investimento representando cerca de 800 milhões de euros de investimento apoiado. Este track record é uma mais valia que se reflete na qualidade do nosso trabalho.

O que devem ter em conta as empresas?

Uma candidatura apenas tem razão de existir tendo na sua base um projeto de investimento. E, sempre que uma empresa prevê um projeto de investimento, deve ter em contas as seguintes “regras”: validar a exequibilidade da ideia; demonstrar a sustentabilidade do projeto e garantir a sua coerência, isto é, o alinhamento entre o projeto de investimento e a estratégia da empresa; garantir a sua viabilidade técnica e económico-financeira. Neste âmbito, deverá assegurar que possui um plano de negócios que sirva de suporte à definição do projeto, identifique a alocação dos diferentes recursos técnicos, financeiros e humanos necessários, preveja a rentabilidade esperada, suporte a apresentação do projeto a potenciais financiadores e investidores e sirva de base para a candidatura a sistemas de incentivos. Na prática, a facilidade ou dificuldade na angariação de financiamento para projetos de investimento está diretamente relacionada com a boa ou má preparação que as empresas fazem desses mesmos projetos. Ter uma boa ideia e capacidade financeira para investir pode não ser suficiente para determinar o sucesso de uma candidatura. É importante ter a perceção que a aprovação de um projeto não é garantida (taxa global de aprovação do SI Inovação no PT 2020 é inferior a 40%). Não é por acaso que este rigor nos permite ter uma taxa média de sucesso nos projetos que acompanhamos de 76%.

As PME têm mais dificuldade em aplicar fundos comunitários na UE. Porquê?

Qualquer projeto de investimento tem sempre associado um conjunto de desafios que passam pela boa execução financeira, pela garantia de que as metas aprovadas em candidatura são devidamente alcançadas ou pela resposta aos esclarecimentos solicitados pela Autoridade de Gestão. Para as PME que contam, na maioria das vezes, com estruturas de suporte curtas e sem a experiência adequada, isto pode resultar em pedidos de reembolsos que não cumprem as regras, o que origina atrasos no recebimento de verbas, comprometendo por vezes o sucesso do projeto. Para algumas empresas, isto pode inclusive e no futuro, comprometer também a realização de investimentos posteriores. O que deveria ser uma oportunidade, passa a ser um problema. É fundamental contar com uma equipa como a nossa, que detenha o know-how e as ferramentas necessárias para acompanhar os promotores em qualquer uma das etapas, a fim de alcançar uma implementação bem-sucedida e a maximização das verbas a receber.

Na vossa opinião, como se pode criar um ambiente de confiança em torno dos benefícios oriundos dos fundos comunitários?

Apostando num modelo de governação, cujo objetivo seja ter sempre o foco na agilidade, na boa execução e nos resultados. O cumprimento dos tempos é crítico. Num mercado tão volátil, onde o que hoje é tecnologia de ponta e amanhã pode estar obsoleto, termos períodos de análise de candidaturas que, por vezes, são superiores a meio ano pode ser um problema. Veja-se a situação atual. A demora nas últimas respostas do Portugal 2020 fez com que, devido à inflação, quando os projetos vieram aprovados os orçamentos estavam totalmente desatualizados. Mas o incentivo não acompanhou esta oscilação, o que fez com que muitos promotores optassem por desistir dos seus projetos, por falta de capacidade para suportar a componente não sujeita a incentivo. Este problema existe também para os projetos aprovados. Por vezes as empresas esperam meses para receber os seus reembolsos, o que em alguns casos é crítico para que possam continuar os seus investimentos. A juntar a isto, o excesso de processos administrativos e burocráticos associados. Se em determinado momento tal foi necessário, hoje existem várias formas, e mais ágeis, para monitorizar a execução dos projetos. Mas, por vezes, as empresas são sujeitas a pedidos de informação volumosos, de forma continuada, o que cria um grande desgaste e desmotivação, gerando uma perceção de que é mais complexa a gestão de todo o processo junto da autoridade de gestão, do que a própria execução do projeto, a qual deve sempre ser o seu foco. Em suma, prazos mais reduzidos, maior agilidade e razoabilidade nas interações e uma maior compreensão pelo dia-a-dia das empresas e por qual deverá ser o seu foco, fazendo com que estas vissem as autoridades como um efetivo parceiro contribuiria, não apenas para criar um ambiente de maior confiança, mas também para melhorar a execução das verbas oriundas dos fundos comunitários.

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