A administração Biden terá solicitado a França e ao Reino Unido que imponham limites ao uso dos mísseis Storm Shadow pela Ucrânia.
Apesar de Emmanuel Macron e Keir Starmer estarem inicialmente dispostos a permitir que as forças ucranianas utilizassem estes mísseis em alvos militares dentro da Rússia, ambos os líderes acabaram por alinhar-se com a posição dos Estados Unidos, de forma a evitar tensões nas suas relações com Washington, segundo avança o Financial Times.
Desde o início da incursão ucraniana em Kursk, Jake Sullivan, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, foi claro ao afirmar que a Ucrânia não poderia utilizar os mísseis ATACMS a partir do território russo. Embora os Estados Unidos tenham recentemente permitido algumas exceções à sua política de não atacar a Rússia dentro das suas fronteiras, estas são limitadas a alvos militares específicos próximos da fronteira com Kharkiv. O objetivo é duplo: impedir novas incursões russas e limitar os bombardeamentos contínuos sobre civis na capital ucraniana.
A restrição geral ao uso de mísseis de longo alcance por parte da Ucrânia, segundo fontes próximas, deve-se ao receio da administração Biden de provocar uma escalada no conflito, especialmente com a possibilidade de uma retaliação nuclear por parte da Rússia. Esta preocupação tem sido uma constante desde o início da invasão russa à Ucrânia, com Washington a tentar manter um equilíbrio delicado entre apoiar Kiev e evitar um confronto direto com Moscovo.
A decisão de limitar o uso de mísseis Storm Shadow não foi bem recebida por todos os aliados ocidentais. Países Baixos, por exemplo, já declararam que não irão impor restrições ao uso dos seus caças F-16 pela Ucrânia, desde que sejam respeitadas as leis internacionais de guerra e não sejam realizados ataques contra civis.
Na Ucrânia, a frustração é evidente. O presidente Volodymyr Zelensky terá optado por não informar os Estados Unidos sobre a incursão em Kursk, ciente de que Washington não aprovaria tal operação. Esta decisão sublinha as tensões latentes entre Kiev e os seus aliados ocidentais, que, apesar de continuarem a fornecer apoio militar, impõem cada vez mais restrições sobre a forma como a Ucrânia pode utilizar estes recursos.
Enquanto isso, a Ucrânia continua a desenvolver as suas próprias capacidades militares, fabricando mísseis de longo alcance para complementar os Neptune e os drones que têm sido utilizados em ataques regulares contra alvos na Crimeia, em Rostov e em várias refinarias e centrais elétricas no oeste da Rússia. No entanto, estes novos mísseis ainda estão em fase de desenvolvimento e podem demorar algum tempo até estarem plenamente operacionais.
A necessidade urgente de novas armas torna-se ainda mais crítica dada a situação no campo de batalha, especialmente no eixo Pokrovsk-Kurajovo-Vuhledar, no sul de Donetsk. As forças russas têm avançado lentamente, mas consistentemente, e estão agora a apenas oito quilómetros de Pokrovsk. Este avanço russo, embora lento, tem causado crescente preocupação entre os comandantes militares ucranianos.
A ameaça russa em Pokrovsk é dupla: um ataque direto ao centro de comunicações mais importante para a Ucrânia no Donbass, após Sloviansk-Kramatorsk, ou uma tentativa de avanço pela estrada N15, que, se bem-sucedida, poderia dividir as defesas ucranianas. Esta última opção, embora arriscada, poderia isolar as tropas ucranianas restantes entre a estrada e a linha de frente, rumo a Zaporíjia.
Rússia já controla grande parte do sul de Zaporíjia desde o início da guerra e tem procurado maneiras de atravessar o rio Dniéper para capturar a capital da província. Embora os avanços no terreno sejam lentos, a possibilidade de uma incursão russa em larga escala é uma preocupação real para as forças ucranianas, que devem preparar-se para esta eventualidade.
Se o chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, enfrentar resistência suficiente, é provável que retome os seus planos originais: avançar de forma direta, utilizando a força bruta, uma estratégia que tem caracterizado as operações militares russas ao longo da história recente.













