barometro

XL BARÓMETRO EXECUTIVE DIGEST: Nelson Pires, Jaba Recordati

A análise de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

O poder com pés de elefante?

Vai-se inaugurar um novo ciclo político estratégico com a nova presidência no continente americano, nem de esquerda, nem de direita. A estratégia de WIIFM – “What’s In It For Me?”. E com pés de elefante porque a previsibilidade ideológica vai ser estilhaçada. A posição sobre o Tik Tok é um exemplo, pois os tribunais consideraram uma ameaça ao país, enquanto a nova presidência entende que “ganhou” bastantes votos com esta plataforma. Discorda portanto. Mas censura o Panamá por ceder o canal aos interesses chineses e afastar-se de Taiwan. Uma presidência que promete defender o país acima de qualquer outro interesse. Ou a sua posição sobre o estímulo aos combustíveis fósseis quando tem a Califórnia em chamas. WIIFM? O apoio das petrolíferas a nível eleitoral e provavelmente outros…

Daí a importância do barómetro da ExecutiveDigest e tentar entender a reação dos líderes empresariais Portugueses sobre o que provavelmente vai acontecer na sua gestão de cenários. Julgo que o entusiamos sobre o ambiente de negócios “arrefeceu” e embora mais de metade dos gestores (55%) estimam crescer +2,5% que no trimestre do ano anterior, 85% dos mesmos entendem que vai ser um ano de crescimento moderado. Mas moderado após 4 anos de crescimento moderado (de 2019 a 2023 a Europa apenas cresceu +6% e os EUA +12% em termos de PIB). Uma das causas mais relevantes é a imprevisibilidade de Trump e das suas “chantagens” protecionistas (69% entendem que é um risco que pode afectar a economia portuguesa). Assim como da instabilidade política do governo minoritário de Montenegro (55% entendem que o governo não terá estabilidade). Só que os gestores portugueses sabem bem o que querem para ter confiança e previsibilidade na sua gestão: uma reforma do sistema fiscal, do sistema judicial e da legislação laboral. Ou seja tudo o que é público e que “atrapalha” o ambiente de negócios e cria custos de contexto elevadíssimos. Aliás, 85% dos inquiridos refere que o maior “influenciador” (eu diria perturbador) da economia é o governo quando devia ser o mercado, os clientes e a inovação.

Finalmente algo que me preocupa tem a ver com o futuro e com a Inteligência Artificial. Esta deverá permitir ganhos de eficiência (e 64% dos gestores referem melhoria dos processos operacionais e 68% comerciais), mas falta a visão dos mesmo no desenvolvimento de I&D e criação de inovação.

Finalmente julgo que neste Barómetro está a oportunidade dada pelo novo governo transatlântico aos europeus. A Europa agora, quer queira quer não, tem de atingir a maioridade, tornar-se autónoma e “fazer pela vida”. Tem de olhar bem para o relatório Draghi e tornar-se um bloco relevante no mundo. Para isso precisa de pensar como um todo e não como um “conjunto de remendos” que apenas estão preocupados com os seus interesses nacionais. Que tem de querer manter o estado social através do crescimento económico e não da pressão fiscal aos que geram riqueza e à classe média. Se fizer isso, torna-se atrativa. Não tem medo de ameaças de tarifas, de abandono da NATO, de ameaça de saída do acordo de Paris… não precisa! Tem um mercado interno poderoso e com poder de compra. Tem capacidade de inovação e industrialização. Tem regras claras de respeito pelas regras ESG para importações. Tem capacidade de atração de talento. A União Europeia tem cerca de 450 milhões de habitantes, tem um “poder com patas de elefante” e não de “formiga” como alguns parecem fazer querer!.

Testemunho publicado na edição de Fevereiro (nº. 227) da Executive Digest, no âmbito da XL edição do seu Barómetro.