Aviação sob pressão inédita: Ciberataques a aeroportos europeus aumentam 600% em apenas um ano

O setor da aviação na Europa tornou-se um dos alvos centrais da guerra híbrida que decorre desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. Nos últimos meses, aeroportos de várias capitais europeias enfrentaram um aumento sem precedentes de ciberataques e incidentes com drones, num cenário que especialistas em segurança consideram cada vez mais preocupante.

Pedro Gonçalves
Setembro 24, 2025
11:17

O setor da aviação na Europa tornou-se um dos alvos centrais da guerra híbrida desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. Nos últimos meses, aeroportos de várias capitais europeias têm enfrentado um aumento sem precedentes de ciberataques e incidentes com drones, num cenário que especialistas em segurança consideram cada vez mais preocupante.

De acordo com a multinacional francesa Thales, o número de ataques informáticos dirigidos a infraestruturas aeroportuárias disparou 600% no último ano. Entre janeiro de 2024 e abril de 2025, registaram-se pelo menos 27 ofensivas classificadas como “importantes”, conduzidas por 22 grupos de ransomware. Em mais de 70% dos casos houve roubo de credenciais ou acessos não autorizados a sistemas críticos, comprometendo operações de voo e informações diplomáticas e tecnológicas sensíveis.

O episódio mais recente ocorreu na segunda-feira, apenas três dias depois de um ataque em larga escala que inutilizou sistemas automáticos de registo e embarque em várias cidades. Londres, Dublin, Berlim e, sobretudo, Bruxelas enfrentaram atrasos e cancelamentos, obrigando ao regresso a processos manuais. No aeroporto da capital belga, 40 partidas e 23 chegadas foram canceladas. A Agência da União Europeia para a Cibersegurança (ENISA) confirmou que a origem esteve no fornecedor norte-americano Collins Aerospace, subsidiária da RTX Corporation. Um porta-voz do aeroporto de Heathrow esclareceu que o sistema “não é propriedade nem está sob gestão da infraestrutura”, limitando a capacidade de resposta local.

A ameaça não se limita ao ciberespaço. Dinamarca e Noruega foram forçadas a encerrar temporariamente os aeroportos de Copenhaga e Oslo após a deteção de drones de grande porte a sobrevoar as imediações. “O que vimos ontem à noite é o ataque mais grave até agora contra a infraestrutura crítica dinamarquesa”, afirmou a primeira-ministra Mette Frederiksen, sublinhando que se insere num padrão de incidentes semelhantes que também afetaram a Polónia, a Roménia e a Estónia. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi mais direto e apontou o dedo a Moscovo, mas o Kremlin rejeita qualquer envolvimento.

A tensão agravou-se ainda mais com violações do espaço aéreo. Na sexta-feira, as autoridades estónias denunciaram a entrada de três caças russos MiG-31 no seu território durante 12 minutos, até serem intercetados pela NATO. Dias antes, Varsóvia acusara a Rússia de enviar cerca de 20 drones para o espaço aéreo polaco. Estes precedentes fragilizam a versão do embaixador russo em Copenhaga, Vladímir Barbin, que descreveu os incidentes como “provocações destinadas a arrastar a NATO para um confronto direto com a Rússia”.

Face à nova realidade, alguns Estados já estão a reforçar as defesas. O Parlamento da Lituânia aprovou esta terça-feira uma lei que concede às Forças Armadas autorização para abater qualquer aeronave não tripulada que viole o espaço aéreo nacional. “As nossas leis e procedimentos não estavam adaptados às ameaças atuais… agora podemos reagir com a velocidade do raio”, declarou a ministra lituana da Defesa Nacional, Dovilė Šakalienė.

O relatório da Thales salienta que grupos de ciberespionagem russos, como o APT28 (Fancy Bear) e o APT29 (Cozy Bear), têm longa experiência em ataques deste género contra países da NATO. Mas a ameaça não parte apenas de Moscovo: Irão, China e Coreia do Norte recorrem igualmente a operações digitais e campanhas de sabotagem. Em comum, todos procuram fragilizar a capacidade de resposta europeia através de ações de baixo custo, mas de alto impacto.

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