Por: Grace Snelling
O Duolingo é a aplicação educativa mais popular do mundo, embora o cofundador e CEO Luis von Ahn o veja como algo muito maior, competindo não só com produtos de aprendizagem de línguas, mas também com a Netflix, o Instagram, o TikTok e qualquer outra aplicação que consuma o seu tempo e atenção. Luis von Ahn fundou o Duolingo para oferecer acesso gratuito à aprendizagem de línguas – um conceito sem precedentes num sector onde a cobrança pelas aulas era a norma. Inicialmente, recorda Luis von Ahn, alguns investidores norte-americanos duvidaram que a ideia resultasse. Mas, como imigrante guatemalteco que aprendeu inglês para procurar oportunidades académicas nos EUA (licenciatura na Duke University; doutoramento na Carnegie Mellon), confiava na sua premissa.
É por isso que ele e a sua equipa adoptaram um modelo freemium que oferece aulas gratuitas para a maioria dos utilizadores e gera receitas ao oferecer extras personalizados a um grupo mais pequeno de subscritores. E é por isso que fazer com que as pessoas abram a aplicação – e aprendam – é uma obsessão singular. O Duolingo foi um dos pioneiros em tácticas de envolvimento com o utilizador, como as notificações push e as suas famosas “sequências” que incentivam os utilizadores a nunca perderem um dia de aprendizagem. A sua coruja, por sua vez, tornou-se uma personagem central e (falsamente) ameaçadora, intimidando os utilizadores que não acompanham as aulas.
A aplicação transforma a aprendizagem num jogo, dividindo as lições em partes mais pequenas (normalmente com menos de três minutos de duração para acompanhar a diminuição da capacidade de atenção, refere Luis von Ahn), estabelecendo competições com tabelas de classificação e distribuindo prémios e crachás. «No passado, [a aplicação] foi rejeitada por pessoas que diziam: “O Duolingo é apenas um jogo. Não se consegue aprender uma língua a sério”», diz Cem Kansu, responsável de produto. Mas, contrapõe, os utilizadores conseguem jogar e aprender.

Em Março de 2023, a aplicação lançou um plano de subscrição com tecnologia de IA, denominado Duolingo Max, em colaboração com a OpenAI, com um preço inicial de 25,5 euros por mês. O novo plano inclui funcionalidades como o Roleplay, que permite aos utilizadores praticarem conversas escritas com versões chatbot da mascote da coruja Duo e outras personagens do universo Duolingo. Em Setembro passado, a empresa levou esta ideia ainda mais longe com o Video Call, que oferece uma interacção falada em tempo real com um chatbot de IA. «Estamos muito, muito entusiasmados», declara Luis von Ahn. «É a primeira vez que conseguimos fazer com que os utilizadores pratiquem a conversação.»
A maioria das teleconferências de resultados segue um protocolo bastante padrão, começando com o CEO a fazer algum tipo de introdução. Mas a teleconferência do Duolingo para o terceiro trimestre de 2024 começou com comentários de uma oradora pouco convencional: uma adolescente desinteressada chamada Lily. O Duolingo tem preparado o terreno para a transformação da Lily numa estrela da IA generativa quase desde o momento em que começou a pressionar os utilizadores para completarem as suas aulas. Com o Video Call, a Lily inicia a conversa com os utilizadores, mas depois disso, estes podem encaminhá-la como acharem melhor. A Lily está treinada para se ajustar ao nível de capacidade de conversação do orador, pausar e “pensar” nas suas respostas, abrandar se solicitado, lembrar-se de pormenores de interacções anteriores e, claro, incluir os seus comentários atrevidos e revirar de olhos característicos.
De certa forma, a própria missão do Duolingo transmite uma mensagem: derrubar fronteiras, abrindo oportunidades educativas. E Luis von Ahn está focado no próximo passo desta jornada: expandir o método de gamificação da aplicação para outras disciplinas. A empresa adicionou música aos seus cursos em 2022 e ofereceu matemática no ano seguinte, e Luis von Ahn assegura que os utilizadores podem esperar disciplinas adicionais. Aprendeu a não impor muitos limites às ambições do Duolingo. «Neste momento, deixei de subestimar o nosso crescimento», diz. «Ele continua a surpreender-me.»














