Ursula von der Leyen prepara-se, esta quarta-feira, para o seu primeiro grande exame após o falhanço com as negociações com Donald Trump num acordo comercial. No seu primeiro discurso a um Parlamento Europeu fragmentado, a presidente da Comissão Europeia vai ser acusada de enfraquecer a UE ao ‘vender-se’ aos EUA, abandonar os agricultores no acordo com a América do Sul, desfazer políticas climáticas e permanecer em silêncio sobre Gaza.
O discurso de Von der Leyen, salientou o jornal ‘POLITICO’, é menos um novo começo para o novo ano político ― e mais uma operação de salvamento. “Este foi um verão mau para a Europa”, referiu Bas Eickhout, co-presidente dos Verdes no Parlamento, um grupo político diferente de von der Leyen, mas que a elegeu. “O que claramente queremos como mensagem do presidente da Comissão é que as coisas precisam de mudar.”
Von der Leyen, após 10 meses do seu segundo mandato, está sob forte pressão tanto do Parlamento Europeu como dentro da estrutura mais ampla da UE: grupos políticas que durante décadas foram favoráveis aos presidentes da Comissão de centro-direita questionam agora as lealdades; forças de direitas exigem políticas mais duras na migração e meio-ambiente. Os líderes dos EUA e da Rússia perturbaram muito do que antes parecia certo sobre o lugar da Europa no mundo.
“Esperamos uma liderança clara do executivo”, disse Valérie Hayer, líder do grupo liberal Renew Europe, ao ‘POLITICO’. “A Europa não se pode dar ao luxo de estagnação ou paralisação institucional.” A aparente falta de liderança tem merecido críticas de todos os lados: à moção de censura em julho último, deverá juntar-se outra em outubro pelos grupos mais extremos, uma demonstração sem precedentes de oposição a um presidente da Comissão.
“Não creio que a Comissão esteja assustada”, referiu um funcionário da Comissão. “Mas certamente há consciência das tensões políticas no Parlamento e do descontentamento de grupos políticos, incluindo a maioria Von der Leyen, em relação a algumas das ações e políticas da Comissão.”
Richard Corbett, ex-eurodeputado e conselheiro do presidente do Conselho Europeu, salientou que Von der Leyen precisa ter certeza de “apaziguar esses diferentes pontos de vista no Parlamento”. O problema é não ter muitas vitórias para a defender, além de um fundo de 150 mil milhões de euros para a Defesa.
Ian Lesser, do Fundo Marshall Alemão, explicou que Von der Leyen tem de mudar as suas prioridades: “A situação assim o exige.” “Tem agendas conflituantes tanto com Washington como com Israel porque não existe uma visão comum entre os Estados-membros. A Europa já não pode depender do soft power do passado: conciliar isso com os valores é um desafio colossal”, acrescentou
Von der Leyen lidou confortavelmente com as duas grandes crises do seu primeiro mandato: a pandemia (devido à sua formação científica) e a Ucrânia (devido à sua experiência em matéria de Defesa). “Mas caiu na armadilha de Trump e, sobretudo, nos tabus da Alemanha em relação a Israel: parece mais uma autoridade menor da CDU do que a voz da Europa em Gaza”, acrescentou fonte diplomática ao jornal espanhol ‘El País’. “O seu taticismo tem sido muito evidente, com uma mudança de prioridades baseada no apoio, e há muitas propostas míopes em vez de olhar para o futuro.”














