Konstantin Zavizenov, um alto funcionário russo com supostos laços financeiros próximos ao presidente Vladimir Putin, foi encontrado morto na noite de terça-feira numa casa de campo no distrito de Istra, próximo de Moscovo. A descoberta foi feita pelo filho de Zavizenov, segundo informações divulgadas pela agência estatal russa RIA Novosti.
As autoridades locais avançaram inicialmente com a hipótese de suicídio, mas a explicação gerou ceticismo entre alguns analistas e comentadores. Zavizenov, de 50 anos, estava alegadamente em estado de embriaguez há mais de uma semana antes da sua morte, conforme relatou o portal Lenta, um site noticioso pró-Kremlin. Segundo a mesma fonte, o filho encontrou uma nota de despedida e álcool sobre uma mesa na casa, e logo em seguida ouviu o disparo fatal vindo de outra divisão da residência.
O Lenta também referiu que Zavizenov enfrentava problemas pessoais, com a mulher a pedir o divórcio após descobrir que o marido mantinha uma relação extraconjugal, o que poderia ter contribuído para o seu estado emocional nos dias que antecederam a sua morte.
A notícia da morte de Zavizenov foi inicialmente divulgada pelo piloto de automóveis e comentador político ucraniano Igor Sushko, que levantou dúvidas sobre a teoria do suicídio. Sushko, conhecido pela sua postura crítica em relação ao Kremlin, não descartou a possibilidade de uma morte orquestrada por forças leais ao regime russo, dada a posição que Zavizenov ocupava e os seus laços com figuras poderosas no círculo de Putin.
Konstantin Zavizenov tinha ligações próximas a Yuri Kovalchuk, um oligarca russo e aliado de longa data de Vladimir Putin. Segundo o jornalista russo Mikhail Zygar, crítico declarado do presidente, Kovalchuk é visto como “o segundo homem mais poderoso da Rússia”. Além disso, a estação de rádio americana Radio Liberty descreveu-o como “o banqueiro pessoal de Putin”.
Zavizenov ocupou cargos importantes na autoproclamada República Popular de Lugansk, um território separatista no leste da Ucrânia que se declarou independente em 2014, após a Revolução de Maidan. Nomeado Ministro do Combustível, Energia e Indústria do Carvão em agosto de 2022, Zavizenov desempenhou um papel ativo nas atividades separatistas da região, que foi formalmente anexada pela Rússia em 2022.
O alto funcionário esteve envolvido na organização de um referendo para integrar a República Popular de Lugansk na Federação Russa, um movimento que desencadeou sanções por parte da União Europeia, do Reino Unido e de várias outras nações. A sua nomeação e envolvimento nas atividades separatistas colocaram-no numa lista de pessoas sancionadas monitorizada pela OpenSanctions, uma plataforma que rastreia indivíduos ligados a conflitos globais.
Apesar de ter sido removido do cargo em junho de 2023, Zavizenov continuou a ser alvo de sanções internacionais devido à sua participação na ocupação de Lugansk. O seu nome também constava na Lista dos Facilitadores de Guerra, um documento publicado pela Fundação Anticorrupção, fundada por Alexei Navalny, o principal opositor político de Putin, que morreu em 2023 após ser preso pelas autoridades russas.
A morte de Konstantin Zavizenov junta-se a uma série de mortes misteriosas de figuras políticas e empresariais russas com ligações ao governo de Putin. Embora as autoridades russas tenham indicado que a investigação preliminar aponta para suicídio, as circunstâncias envoltas em mistério e os laços com Kovalchuk e outros membros do círculo próximo do Kremlin suscitaram dúvidas sobre a verdadeira natureza do incidente.














