Afinal, não são assim tão limpos como se pensava: estudo revela o ‘lado sujo’ dos carros elétricos

Investigação analisou todo o ciclo de vida dos veículos — desde a produção de combustível e fabrico das baterias até à montagem e operação

Automonitor
Novembro 2, 2025
13:00

Os veículos elétricos produzem mais emissões de dióxido de carbono (CO₂) do que os automóveis a gasolina ou a gasóleo nos primeiros anos de utilização, segundo um estudo da Universidade Duke. Apesar de serem apresentados como uma solução ecológica, o processo de fabrico e a extração de matérias-primas revelam custos ambientais elevados.

A investigação, apontou o tabloide britânico ‘Daily Mail’, analisou todo o ciclo de vida dos veículos — desde a produção de combustível e fabrico das baterias até à montagem e operação. Os resultados mostraram que, nos dois primeiros anos, os veículos elétricos geram até 30% mais emissões do que os modelos convencionais.

O impacto, no entanto, muda a partir do terceiro ano. De acordo com o coautor Drew Shindell, ao longo de uma vida útil média de 18 anos, “os veículos com motor de combustão interna causam duas a três vezes mais danos ao clima e à qualidade do ar” do que os elétricos.

O peso ambiental da produção de baterias

O estudo aponta a mineração de lítio como uma das principais responsáveis pelas emissões iniciais. A extração deste metal, realizada sobretudo na Austrália, no Chile e na China, consome grandes quantidades de energia e água, libertando até 15 toneladas de CO₂ por cada tonelada de lítio obtida.

Segundo o investigador Pankaj Sadavarte, da Universidade do Norte do Arizona, “a mineração de lítio e a produção de baterias representam cerca de 50% das emissões totais de CO₂ de um veículo elétrico no primeiro ano”. A produção de uma única bateria pode gerar até 15,6 toneladas de dióxido de carbono.

Com o tempo, contudo, a balança inverte-se: após os dois primeiros anos, os carros elétricos passam a emitir significativamente menos CO₂ do que os veículos movidos a combustíveis fósseis.

Custos sociais e ambientais

Os investigadores calcularam também o impacto económico e social da poluição. Um automóvel a gasolina ou a gasóleo provoca danos ambientais de cerca de 1.605 dólares (1.214 euros) por ano, enquanto um veículo elétrico comparável gera apenas 629 dólares (475 euros). Mesmo quando alimentado exclusivamente com energia proveniente da queima de carvão, o custo ambiental de um elétrico não ultrapassa os 815 dólares (616 euros) anuais — ainda assim, metade do valor associado a um carro convencional.

Estudos anteriores já tinham indicado que a produção de um carro elétrico pode gerar até 70% mais emissões do que a de um automóvel a gasolina. Para compensar esse défice, um modelo como o Volkswagen e-Golf precisa de percorrer cerca de 124.000 quilómetros (77.000 milhas) até se tornar mais benéfico para o ambiente.

Outras fontes de poluição ignoradas

Os cientistas alertam que os veículos elétricos não são tecnicamente “livres de emissões”. A Universidade de Southampton descobriu que as pastilhas de travão usadas nestes automóveis libertam partículas até 30 vezes menores que um fio de cabelo humano — capazes de penetrar nos pulmões e causar danos nos tecidos.

Como os elétricos são mais pesados, produzem mais poluição não relacionada com os gases de escape durante a travagem, agravando o impacto ambiental em áreas urbanas.

Além disso, o estudo não contabilizou o custo ambiental do fim de vida dos veículos — incluindo a reciclagem das baterias —, um ponto que permanece em aberto para os investigadores.

Pegada de carbono e estilo de vida

Outros trabalhos, como os da Universidade de Turku, na Finlândia, reforçam que o impacto global dos condutores de elétricos pode ser superior ao esperado. Embora os veículos emitam menos poluentes, o estilo de vida mais intensivo em consumo dos proprietários tende a gerar uma pegada de carbono mais elevada.

Em média, um condutor de automóvel elétrico emite meia tonelada adicional de CO₂ por ano em comparação com os motoristas de carros a gasolina, sendo que os modelos de alto desempenho chegam a produzir quase duas toneladas extra.

Híbridos e futuro da mobilidade

Os investigadores defendem que os veículos híbridos continuam a representar uma solução intermédia. Combinando motores elétricos e a gasolina, alternam entre fontes de energia consoante a velocidade e as necessidades de potência, reduzindo o consumo e as emissões.

Apesar das limitações, os cientistas sublinham que os veículos elétricos continuam a ser a melhor opção ambiental a longo prazo. A descarbonização das fontes de energia e a melhoria dos processos de fabrico serão decisivas para que esta tecnologia cumpra plenamente a promessa de uma mobilidade mais sustentável.

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