Há mais de duas décadas que a União Europeia não acolhe um novo Estado-membro. Desde a adesão da Croácia, em 2013, o alargamento do bloco europeu ficou praticamente paralisado — e para os seis países dos Balcãs Ocidentais, essa espera tem-se transformado numa verdadeira travessia no deserto.
Albania, Montenegro, Sérvia, Macedónia do Norte, Bósnia-Herzegovina e Kosovo aguardam o tão ambicionado “cartão de membro”, um processo marcado por avanços lentos, obstáculos políticos e um desânimo crescente entre as populações. No total, mais de 16 milhões de cidadãos continuam à porta de uma União que parece hesitar entre o pragmatismo político e o ideal de integração.
Atualmente, os dois países mais avançados neste percurso são Albânia e Montenegro, cuja adesão poderá concretizar-se por volta de 2030, segundo estimativas comunitárias. A Sérvia, antes vista como candidata favorita, perdeu impulso nos últimos anos devido à influência crescente da Rússia e ao impasse nas relações com o Kosovo, cuja independência, proclamada em 2008, Belgrado continua a não reconhecer.
A questão do alargamento voltou ao centro do debate europeu nos últimos meses. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, declarou recentemente que “a ampliação aos Balcãs Ocidentais é um investimento geopolítico para a paz e a estabilidade”, após um encontro em Tirana com o primeiro-ministro albanês, Edi Rama.
Também a comissária europeia da Amplição, Marta Kos, elogiou o “progresso real” da região, mas advertiu que ainda há “reformas fundamentais por concretizar, especialmente na economia e no Estado de direito”. Segundo Kos, “a Europa não pode estar unida sem os Balcãs Ocidentais”, apelando aos governos da região para “redobrarem os esforços de reforma” e “aproveitarem esta oportunidade histórica”.
A ministra dinamarquesa dos Assuntos Europeus, Marie Bjerre, foi mais direta: “Se não avançarmos, corremos o risco de os perder. Nos Balcãs Ocidentais, os Estados Unidos afastaram-se e a influência russa é muito forte. Custar-nos-á mais caro não progredir com a ampliação”, afirmou, ao assumir a presidência semestral do Conselho da UE.
O sentimento nas ruas: esperança desigual
De acordo com o Eurobarómetro publicado em maio, mais de 80% dos montenegrinos e albaneses acreditam que a adesão à UE seria positiva. Em contraste, apenas 34% dos sérvios partilham essa visão — um reflexo da crescente desconfiança em relação a Bruxelas, num país onde a retórica pró-Moscovo ainda tem peso político.
Já na Macedónia do Norte e na Bósnia-Herzegovina, o apoio à adesão oscila entre 50% e 60%, revelando uma perceção mista sobre as vantagens concretas da integração.
Para compreender o estado real do processo, o jornal El Mundo ouviu seis analistas políticos — um de cada país ou território candidato. As suas respostas oferecem um retrato nuançado, por vezes desencantado, do caminho para Bruxelas.
Albânia: “o ritmo acelerou, mas as reformas continuam frágeis”
Segundo Daniel Prroni, investigador do Institute for Democracy and Mediation, a Albânia atravessa um momento inédito: “abrimos 24 dos 33 capítulos de negociação em apenas seis meses, e espera-se concluir o resto até ao final do ano”, disse.
Apesar do otimismo, Prroni alerta que o progresso é mais aparente do que substancial. “As reformas no Estado de direito e na liberdade de imprensa continuam frágeis. Se a UE não for mais rigorosa, podemos repetir o caso da Sérvia — um processo interminável sem verdadeira transformação.”
O analista critica ainda a abordagem coletiva dos Balcãs: “A designação ‘Balcãs Ocidentais’ é uma construção política artificial da UE. Cada país tem realidades e ritmos distintos.”
Montenegro: “as portas da União continuam abertas”
Para Stevo Muk, presidente do Institut Alternativa, Montenegro é o candidato mais próximo da adesão. “A UE tem transmitido uma mensagem clara de que as portas estão abertas, mas o país precisa de cumprir os prazos e compromissos.”
Muk sublinha que o pequeno tamanho do país facilita o processo, ao reduzir o impacto orçamental para a União. “Apenas a Albânia partilha esta perspetiva realista de entrada num futuro próximo; os restantes estão ainda muito atrás, devido à corrupção, à instabilidade e às disputas bilaterais.”
Sérvia: “um regime que não quer realmente entrar na UE”
O analista Aleksandar Djokic é categórico: “Com o atual regime nacional-populista, as hipóteses são praticamente nulas.”
Segundo Djokic, o governo de Aleksandar Vucic mantém o país no estatuto de candidato apenas para continuar a receber fundos europeus, mas sem intenção de cumprir os critérios democráticos. “A Sérvia não quer entrar; quer apenas parecer que quer.”
Para o analista, tratar os seis países como um bloco “apenas serviu para atrasar os mais preparados, como Montenegro”.
Macedónia do Norte: “condições inaceitáveis bloqueiam o futuro europeu”
O economista Branimir Jovanovic, do Vienna Institute for International Economic Studies, é pessimista: “As hipóteses de adesão nos próximos dez anos são nulas.”
A razão principal, explica, está nas exigências da Bulgária, que exige alterações constitucionais e reconhecimento de minorias. “A UE aceitou exigências bilaterais que a população não pode aceitar. Só um novo enquadramento europeu poderá desbloquear o impasse.”
Para Jovanovic, o modelo de “adesão em bloco” já não é viável: “A UE agora aplica o princípio da regata — avança quem cumpre os critérios, um a um.”
Bósnia-Herzegovina: “sem metas concretas, não há progresso”
O analista Adnan Cerimagic, do European Stability Initiative, afirma que “a ampliação está bloqueada, apesar da retórica de Bruxelas.”
Para ele, apenas um objetivo claro e alcançável — como o acesso ao mercado único ou uma data concreta de adesão — poderá restaurar a motivação reformista. “Sem metas, nenhum país dos Balcãs Ocidentais entrará na UE nesta década.”
Kosovo: “sem reconhecimento pleno, o caminho é quase impossível”
Para Arbëresha Loxha, diretora do Group for Legal and Political Studies, o Kosovo continua a enfrentar um impasse estrutural.
“Assinámos o Acordo de Estabilização e Associação em 2015 e apresentámos a candidatura em 2022, mas o Conselho Europeu ainda não a discutiu”, explicou.
O maior obstáculo é a falta de reconhecimento por cinco Estados da UE — Espanha, Grécia, Chipre, Roménia e Eslováquia. Loxha acredita que “apenas uma mudança geopolítica significativa, como a guerra na Ucrânia, poderia acelerar a integração”.














