A importância de uma Estratégia de Dados

Opinião de David Ferreira, Head of Data & AI, na Minsait em Portugal (Indra Group)

Executive Digest
Agosto 5, 2025
11:28

Por David Ferreira, Head of Data & AI, na Minsait em Portugal (Indra Group)

Vivemos numa era em que os dados se tornaram parte essencial do funcionamento das organizações e da vida em sociedade. Já não são apenas registos guardados em sistemas de informação. Os dados estão em todo lado e por toda a parte, são gerados a cada segundo por pessoas, dispositivos e sistemas, moldando a nossa realidade a um mundo digital. São, cada vez mais, o ponto de partida para decisões estratégicas, para a inovação e para a criação de valor. A transformação digital, impulsionada pela inteligência artificial e pela analítica avançada, veio reforçar esta realidade. Os dados passaram a ser vistos como um ativo com valor económico e estratégico, e como tal, devem ser geridos com o mesmo rigor com que se gerem outros ativos organizacionais.

No entanto, muitas organizações ainda não gerem os dados com a importância que estes merecem. É comum encontrarmos os dados fragmentados entre sistemas e departamentos (silos de informação), com baixa qualidade e com dificuldade no seu acesso e interpretação. Quando isto acontece, a organização perde a oportunidade de extrair valor dos dados, comprometendo a melhoria de processos, a eficiência operacional, a inovação, o conhecimento sobre os seus clientes, a antecipação de riscos, e mesmo a identificação de novas oportunidades de negócio, produtos e serviços. Desta forma, é fundamental definir uma Estratégia de Dados clara, que alinhada com os objetivos estratégicos da organização, crie as fundações para uma efetiva gestão de dados.

Uma Estratégia de Dados não é apenas um plano técnico. É uma visão integrada que envolve pessoas, processos, tecnologia e cultura. Começa por reconhecer que os dados devem estar ao serviço da organização e que a sua gestão deve ser transversal a toda a organização. Implica garantir que os dados são fiáveis, que estão disponíveis quando e onde são necessários, que são compreendidos por quem os usa e que estão protegidos contra acessos indevidos ou usos incorretos. Mas vai mais longe: implica também criar uma cultura interna onde todos compreendem o valor dos dados e assumem a sua responsabilidade na sua utilização.

Nenhuma organização começa do zero quando pretende iniciar uma estratégia de dados. Mesmo que a gestão de dados seja feita de forma informal, em silos ou não governada, já existe um ponto de partida. O que se impõe é perceber em que nível de maturidade se encontra a organização e, a partir daí, definir um caminho de evolução. Existem diversos modelos de maturidade disponíveis que ajudam a fazer essa avaliação e a identificar e priorizar as áreas onde é necessário intervir.

É importante referir que uma Estratégia de Dados não é algo imutável. O mundo muda, os mercados mudam e a tecnologia evolui, como tal a estratégia deve ser revista e ajustada sempre que necessário, para acompanhar os novos desafios, necessidades e oportunidades. Tal como os processos de negócio devem ser otimizados ao longo do tempo, também a gestão de dados deve ser alvo de melhoria contínua, com base em métricas claras e objetivos bem definidos.

A criação de uma cultura orientada aos dados é um dos grandes desafios que se pretende superar com a definição duma estratégia de dados. Não basta ter tecnologia ou processos bem definidos, é preciso que as pessoas se envolvam, que compreendam o seu papel e que vejam os dados como um ativo fundamental no desenvolvimento da sua organização. Isso exige formação, comunicação, liderança e, acima de tudo, uma visão clara do que se pretende alcançar.

É igualmente importante referir que, se queremos gerir os dados como um ativo, isto implica que os mesmos tenham um valor quantitativo (e também qualitativo). Uma organização que queira suportar as suas decisões em dados, deve desenvolver alguma metodologia para quantificar o valor dos seus dados, e medir os custos da baixa qualidade de dados e os benefícios duma boa qualidade dos dados.

O retorno do investimento numa iniciativa destas deve ser medido com base na identificação de casos de uso concretos na organização que permitam aferir o real impacto no negócio. Identificar, priorizar e implementar estes casos de uso permitirá medir resultados, fundamentar o valor dos dados, aprender com a experiência e por fim consolidar progressivamente a Estratégia de Dados na organização.

Os dados são hoje um dos recursos mais poderosos ao dispor das organizações. Mas para que cumpram esse papel, é necessário geri-los com seriedade, com visão e com estratégia. Quem souber “refinar” os dados, conseguirá extrair deles o valor acrescentado necessário para transformar a sua organização em líder de referência no seu setor de atividade.

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