A ‘frota fantasma’ de Putin tem sido plataforma de lançamento de drones na Europa

Frota fantasma russa — uma rede de petroleiros criada para contornar as sanções ocidentais — deixou de ser um problema energético para se tornar um vetor de guerra híbrida no Báltico

Francisco Laranjeira
Setembro 26, 2025
12:22

A audaciosa ‘Operação Teia de Aranha’, que terminou com duas dezenas de bombardeiros estratégicos russos destruídos e queimados a mais de 4.000 quilómetros da frente ucraniana, ofereceu uma série de possibilidades militares do tipo ‘Cavalo de Troia’ até então inexploradas. Se os cérebros militares de Kiev conseguiram esconder drones comerciais em camiões e lançá-los perto das pistas dos aeródromos russos, isso significa que qualquer plataforma que passe despercebida pode ser utilizada como nave-mãe para estas aeronaves não tripuladas.

A primeira evidência de algo semelhante a acontecer surgiu entre os dias 7 e 10 últimos: a polícia e as forças especiais alemãs abordaram o cargueiro ‘Scanlark’ na eclusa de Kiel-Holtenau, devido a suspeitas que tinha lançado um drone que sobrevoou e fotografou uma fragata alemã a 26 de agosto. O Ministério Público de Flensburg está a investigar uma possível base móvel de drones; o caso faz parte de centenas de voos suspeitos perto de infraestruturas críticas alemãs em 2025.

Na passada segunda-feira, o segundo: vários “drones de grande porte” provocaram o encerramento do Aeroporto de Kastrup, em Copenhaga, e obrigaram ao cancelamento ou desvio de 150 voos. O canal de televisão estatal dinamarquês ‘TV2’ divulgou informações das suas forças de segurança, afirmando que três navios são suspeitos de terem lançado pelo menos um ou mais drones de determinada dimensão.

Navios de carga ligados à Rússia

As três embarcações em questão são: o cargueiro russo ‘Astrol 1’, sancionado, que navegou pelo estreito de Öresund nessa mesma segunda-feira e realizou várias manobras irregulares; o petroleiro ‘Pushpa’, também sancionado pela UE e navegando sob bandeira do Benim, foi monitorizado durante quatro horas por um navio alemão da NATO. O último é o cargueiro norueguês ‘Oslo Carrier 3’, que se encontrava a sete quilómetros do Aeroporto de Kastrup enquanto os drones eram perseguidos. Embora este navio não esteja sancionado como parte da chamada “frota fantasma” de Moscovo, o seu armador tem um escritório no enclave russo de Kaliningrado.

Foram os russos que tiveram esta ideia? Não. O seu parceiro, o Irão, já converteu antigos navios porta-contentores em naves-mãe de drones (os navios ‘Shahid Mahdavi’ e ‘Shahid Bagheri’) e mostrou-os a operar drones e armas a partir dos respetivos convés; são excelentes exemplos de navios mercantes civis transformados em plataformas de drones.

A frota fantasma russa — uma rede de petroleiros criada para contornar as sanções ocidentais — deixou de ser um problema energético para se tornar um vetor de guerra híbrida no Báltico: os seus navios são creditados com operações de reconhecimento e sabotagem e, de acordo com as autoridades e os meios de comunicação europeus, poderiam ter servido não só como plataforma de lançamento e controlo para drones, mas também para destruir cabos de comunicação subaquáticos.

A Finlândia acusou o capitão e dois oficiais do petroleiro ‘Eagle S’ — identificado como parte da ‘frota fantasma’ — de cortar cinco cabos submarinos entre a Finlândia e a Estónia a 25 de dezembro de 2024, após arrastar uma âncora durante aproximadamente 90 quilómetros. Este é o primeiro caso criminal deste tipo na NATO.

Sabotagem barata

Neste sentido, a conversão de petroleiros sancionados em naves-mãe de drones e bases para atividades de sabotagem torna as operações em zonas cinzentas mais baratas e transparentes, ao mesmo tempo que pressiona a UE e a NATO a preencher uma lacuna legal e operacional em águas internacionais. As novas sanções e o aumento das patrulhas militares na região refletem que o Báltico já se tornou um teatro de guerra híbrida.

Mark Galeotti, um dos melhores analistas deste tipo de estratégia de zonas cinzentas, defendeu que, na “nova forma de guerra”, tudo pode ser militarizado, incluindo plataformas civis (navios, aeroportos, redes, empresas), para operar abaixo do limite e com uma negação plausível, indicou ao jornal ‘El Mundo’, referindo uma “militarização da inconveniência”: sabotagem e inconveniência que obrigam ao desvio de recursos e corroem a vontade política ocidental.

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