Por Luís Dionísio, partner da ERA Group
Nesta época do ano, a Saúde ocupa um espaço mediático bastante significativo, quase nunca pelos melhores motivos. Todos os dias são notícia o fecho e o crescente desgaste dos serviços, os desafios estruturais de um sistema que nem em agosto vão de férias.
Naturalmente que há diversos fatores que contribuem para que o setor seja exposto a esta fragilidade profunda, desde o envelhecimento da população, a cronicidade de doenças, a maior exigência dos cidadãos, mas também a escassez de profissionais de saúde, em especial os médicos, e a fuga de talento para o estrangeiro. Um problema que não é novo, mas que se agrava com o tempo e que tudo tem a ver com a capacidade limitada de resposta. Exige-se, pois, uma abordagem mais ampla, mais célere e acessível a todos.
Mas a solução está longe de ser linear. Vivemos uma era de avanços extraordinários na medicina e nos sistemas de saúde, em que tecnologias como a robótica, os tratamentos personalizados ou os diagnósticos assistidos por Inteligência Artificial deixaram de ser promessa para se tornarem realidade. A par do aumento do investimento no setor – público ou privado -, cresce também a procura, a um ritmo mais rápido do que a capacidade de resposta, ampliando a já preocupante lacuna estrutural do sistema.
Tornar o setor mais eficiente e resiliente face a estes desafios deixou de ser uma opção. É, hoje, uma exigência para a sua própria sobrevivência. Contudo, é crucial perceber que eficiência não significa apenas cortar custos ou alterar processos. Trata-se, antes, de maximizar o impacto com os recursos que já temos disponíveis.
Existem várias formas de alcançar esse objetivo. Por exemplo, reduzir custos energéticos através da revisão de opções pode libertar fundos para contratar mais profissionais clínicos ou adquirir mais equipamentos médicos, ampliando, assim, a capacidade de resposta. Da mesma forma, rever contratos de limpeza, alimentação, segurança, manutenção e fornecedores, permite otimizar os recursos operacionais, que podem ser redirecionados para a missão central: cuidar de mais pessoas, e melhor.
Tenho acompanhado várias instituições que, ao reajustarem os seus projetos, conseguiram libertar verbas significativas, sem comprometer a qualidade, e reinvesti-las diretamente na atividade clínica. Fazer mais com o mesmo não é, nem precisa de ser, uma utopia. É o resultado de método, foco e decisões informadas e reflete um princípio fundamental: investir estrategicamente não deve ser encarado como um custo, mas sim como a garantia de sustentabilidade a longo prazo.
É o caso da digitalização e automação de processos administrativos e repetitivos, que permitem libertar profissionais para tarefas prioritárias e urgentes; ou a aposta em programas de retenção de talentos, que ajudam a reduzir a rotatividade dos profissionais e preservar competências essenciais. Soluções de telemedicina permitem aliviar a pressão sobre os hospitais e expandir o alcance dos cuidados, enquanto que equipamentos de tecnologias de diagnóstico precoce possibilitam reduções em internamentos.
Estes investimentos, embora alguns tenham retorno a médio e longo prazo, constituem a base de um sistema de saúde mais resiliente e preparado para o futuro. Revelam que uma boa gestão não se constrói com cortes generalizados nem com slogans vazios sobre inovação, mas sim com um compromisso sólido e contínuo com a eficiência e a monitorização constante dos resultados.
Mas deixam também um desafio às entidades gestoras: é preciso mais ambição na definição de prioridades com base em soluções que verdadeiramente respondem às necessidades do setor, e investimento em equipas multidisciplinares que integrem gestão, tecnologia, capital humano e recursos clínicos.
Num setor onde cada decisão pode salvar vidas, gerir com eficácia deve ser uma prioridade. Fazer multiplicar os recursos disponíveis pode exigir criatividade e inovação, mas é, sem dúvida, a mudança de paradigma que o setor necessita para garantir um futuro sustentável e de qualidade para todos.




