Rússia exporta petróleo como nunca, mas está à beira do colapso: a dupla barreira formada pela Ucrânia e pelos Estados Unidos

Analistas alertam que este aumento não representa um sinal de força, mas antes o reflexo de uma economia em tensão — uma resposta de curto prazo a uma crise interna de gasolina que se agrava rapidamente

Francisco Laranjeira
Novembro 5, 2025
11:27

Duas frentes simultâneas estão a pressionar a economia russa: os ataques de drones da Ucrânia e as novas sanções impostas pelos Estados Unidos.

De acordo com o ‘El Economista’, a administração de Donald Trump anunciou restrições contra as petrolíferas Rosneft e Lukoil, determinando que qualquer empresa que mantenha negócios com estas entidades enfrentará consequências no comércio com os EUA. Ao mesmo tempo, a Ucrânia intensificou os ataques com drones e mísseis, atingindo refinarias situadas até nas imediações de Moscovo.

Apesar das medidas, as exportações russas de petróleo bruto não diminuíram. Segundo dados citados pela publicação espanhola, atingiram em outubro um recorde histórico de 4,11 milhões de barris por dia, face aos 3,77 milhões registados em setembro. Ainda assim, analistas alertam que este aumento não representa um sinal de força, mas antes o reflexo de uma economia em tensão — uma resposta de curto prazo a uma crise interna de gasolina que se agrava rapidamente.

Exportações sob pressão e risco de escassez

A S&P Global atribui o aumento das exportações a dois fatores: a necessidade urgente de compensar as perdas provocadas pelos ataques ucranianos e a acumulação de barris por parte das empresas antes da entrada em vigor das sanções americanas. Contudo, esta estratégia está a criar desequilíbrios internos. A Rússia enfrenta uma escassez generalizada de combustível, com refinarias incapazes de processar o petróleo bruto à velocidade necessária.

Em outubro, as refinarias russas foram obrigadas a suspender cerca de 20% da sua capacidade, o equivalente a 1,5 milhões de barris diários, devido aos bombardeamentos ucranianos. Os primeiros sinais da crise surgiram nesse mesmo mês, com filas extensas em postos de combustível e preços recorde em várias cidades. A situação agravou-se nas últimas semanas, com falta de gasolina e gasóleo em 84% das regiões do país, segundo o especialista Stanimir Dobrev, ouvido pela ‘CNBC’.

Impacto nas relações comerciais e perda de receitas

A Rosneft, responsável por quase metade da produção petrolífera russa, representa cerca de 6% da produção mundial. As sanções contra esta e outras empresas do setor poderão ter um impacto significativo nas finanças do Kremlin. Já se registam reduções nas encomendas de refinarias chinesas e indianas, com 45% das exportações russas para a China suspensas nos próximos meses, segundo a ‘Randstad Energy’.

Mesmo sem uma quebra acentuada nas exportações totais, a Rússia enfrenta uma queda nas receitas, impulsionada pela descida dos preços. O Centro de Estudos de Energia e Ar Limpo (CREO) indica que a diferença entre o preço do petróleo dos Urais e o petróleo europeu aumentou três dólares desde o início dos ataques, levando o crude russo ao valor mais baixo desde o começo da guerra. Esta tendência já se traduz numa redução de 2% nas receitas mensais do Governo russo, e os analistas preveem um agravamento à medida que a escassez de combustível se intensifica.

A ofensiva mais eficaz da Ucrânia

Especialistas citados pelo ‘El Economista’ consideram que esta poderá ser a campanha mais eficaz da Ucrânia desde o início da invasão russa, ao combinar ataques de drones de produção em massa com mísseis de longo alcance. O resultado é uma pressão simultânea militar e económica sobre Moscovo, que enfrenta agora o duplo desafio de manter o abastecimento interno e preservar as suas exportações energéticas em queda de rentabilidade.

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