Espionagem nas universidades da Europa: Eurodeputados pedem vigilância e atenção, mas “sem paranoia”
O Parlamento Europeu debateu, na sessão plenária em Estrasburgo desta quinta-feira, a interferência estrangeira e espionagem por parte de países terceiros nas universidades da Europa. Estas instituições, reconhecidas como centros de investigação, inovação e intercâmbio de conhecimentos, estão a tornar-se alvos de estratégias de influência e transferência tecnológica, alertaram os eurodeputados.
Durante o debate, foram mencionados casos de espionagem direta em áreas de investigação sensíveis e de esforços para influenciar debates académicos. Países como a China, a Rússia e o Irão foram destacados como os principais protagonistas destas interferências.
Laurence Farreng, eurodeputada do grupo Renew Europe (Renovar a Europa), afirmou que o problema da interferência nas universidades é “um ponto cego das nossas políticas”. Em declarações à Euronews, referiu que “é um facto comprovado que podem ocorrer dois tipos de interferência: espionagem direta relacionada com investigação e tentativas de influência”.
Por sua vez, Hannes Heide, do grupo social-democrata S&D destacou o financiamento de investigadores europeus por parte da China em áreas estratégicas, como inteligência artificial, tecnologias quânticas, investigação espacial e biotecnologia. Segundo Heide, “os investigadores chineses são obrigados pelas suas agências de inteligência a partilhar conhecimento com o estado”. O eurodeputado apelou à necessidade urgente de reforçar a transparência no financiamento da investigação.
Durante a sessão, os eurodeputados avançaram com diversas recomendações para mitigar os riscos. Entre elas, destacaram-se, segundo a Euronews:
- Aumentar a transparência nas instituições de financiamento;
- Promover a sensibilização nas universidades sobre os riscos de interferência estrangeira;
- Reforçar o financiamento público no ensino superior;
- Coordenar esforços com as agências europeias de inteligência.
Markéta Gregorová, do grupo Greens/EFA, defendeu que a cooperação com as agências de inteligência é essencial, dado que estas são frequentemente as primeiras a detetar interferências estrangeiras. Gregorová alertou ainda para a influência de países como a China e a Rússia: “Embora acolhamos estudantes com laços a estas nações nas nossas universidades, não devemos ser ingénuos e conceder acesso facilitado a tecnologias de ponta. Devemos ser vigilantes, mas sem cair na paranoia.”
Apesar dos alertas, os eurodeputados sublinharam a importância de preservar a liberdade académica e a autonomia das instituições. O desafio, segundo os participantes no debate, reside em encontrar um equilíbrio entre proteger os interesses estratégicos da Europa e manter o espírito de abertura e colaboração que caracteriza o ensino superior.