Revelações sobre Putin, Trump (e muito mais): Biografia de Angela Merkel chega hoje às livrarias e promete polémica

A autobiografia de Angela Merkel, intitulada Liberdade, é lançada hoje em 30 países, incluindo Portugal, e promete uma perspetiva íntima sobre os 16 anos de mandato da ex-chanceler alemã. O livro, escrito em colaboração com Beate Baumann, sua antiga chefe de gabinete, aborda momentos decisivos da política global, relações com líderes mundiais, e os desafios que enfrentou enquanto liderava a maior economia europeia.

Com 700 páginas, Liberdade combina memórias pessoais e reflexões sobre política. Merkel detalha os seus 35 anos na Alemanha de Leste e outros tantos na Alemanha reunificada, traçando um paralelo entre o título da obra e a sua busca constante pela liberdade ao longo da vida. “O que é a liberdade para mim? Essa pergunta perseguiu-me durante toda a minha vida”, afirmou Merkel ao Deutsche Welle.

O confronto com Putin: sinais ao mundo
Um dos episódios mais intrigantes do livro revela um momento desconfortável com o Presidente russo, Vladimir Putin. Merkel recorda como, em 2007, durante uma reunião em Sochi, Putin permitiu que a sua cadela, Koni, uma labrador preta, circulasse pela sala, apesar de saber do medo da chanceler por cães.

“Desde a primeira vez que o conheci como chanceler, em janeiro de 2006, ele sabia que tinha medo de cães, porque no início de 1995 fui mordida por um em Uckermark”, escreve Merkel. A líder alemã destaca que os seus diplomatas haviam pedido que não houvesse cães presentes nas reuniões, algo que Putin respeitara inicialmente. Em 2006, trouxe-lhe um cão de peluche como presente, garantindo que “não mordia”. Contudo, em Sochi, um ano depois, o cenário mudou.

Merkel descreve como tentou ignorar o animal enquanto pousavam para fotografias. “A expressão de Putin dizia claramente (pelo menos para mim) que ele achava a situação divertida”, afirmou. Para a ex-chanceler, este gesto foi mais do que uma provocação pessoal: “Putin mostrou ao público como pretendia enviar sinais, se necessário com a ajuda da sua labrador preta.”

Ainda sobre Putin, Merkel recorda um episódio em abril de 2006, quando o líder russo lhe revelou as suas intenções de regressar ao poder após uma pausa constitucional. “A mensagem era clara: ‘Voltarei, será apenas uma pausa'”, escreveu a ex-chanceler, sublinhando que a sua previsão se concretizou quando Putin reassumiu a presidência em 2012, após o interregno de Dmitri Medvedev.

A relação com Trump: fascínio por autoritarismo
Outro capítulo significativo aborda a relação com Donald Trump, marcada por tensões e perceções díspares. Durante o primeiro encontro, em março de 2017, Merkel sentiu que o então presidente norte-americano estava “fascinado por líderes com tendências autocráticas”.

Na reunião, Trump mostrou-se especialmente curioso sobre as origens de Merkel na Alemanha de Leste e a sua relação com Putin. A chanceler recorda que o presidente agia “de forma emocional” e não parecia interessado em resolver problemas. “Resolver problemas não parecia ser o objetivo dele”, afirma Merkel.

O episódio em que Trump recusou um segundo aperto de mão para as câmaras, apesar do murmúrio de Merkel a sugerir o gesto, também é mencionado. A ex-chanceler descreve ainda as críticas de Trump à Alemanha, acusando o país de práticas comerciais desleais e de ser mesquinho nos gastos militares.

A retirada dos EUA do Acordo de Paris, anunciada em junho de 2017, foi um momento particularmente difícil para Merkel, que liderava esforços para tornar o clima uma prioridade global. “Foi um rude golpe”, admite no livro.

A obra, que também aborda questões filosóficas e pessoais, reafirma o compromisso de Merkel com a democracia e os direitos humanos. “Sem democracia não há liberdade, não há Estado constitucional, não há proteção dos direitos humanos”, defende.

Considerada durante uma década como a mulher mais poderosa do mundo pela Forbes, Merkel usa Liberdade para partilhar as lições de uma vida dedicada à política e à liderança. “Liberdade significa não parar de aprender, não ter que ficar parada mesmo depois de deixar a política”, reflete.

O lançamento do livro, três anos após deixar o cargo, oferece um olhar único sobre os bastidores de momentos históricos e os dilemas enfrentados por uma das líderes mais influentes do século XXI.

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