Marcha neonazi e contraprotesto no Martim Moniz: Junta de Santa Maria Maior está preocupada e apela aos imigrantes que não se envolvam

A Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, está preocupada com a marcha de extrema-direita, marcada para dia 3 de fevereiro no Martim Moniz, e para o contraprotesto de organizações antirracistas, que poderá ocorrer no mesmo dia.

As autoridades locais apelam aos imigrantes que vivem e trabalham no local para que não se envolvam em eventuais confrontos que possam eclodir.

Manifestando “preocupação”, o presidente da Junta de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, diz à TSF que pode “haver tentativa de contrarresposta” que vai “gerar ainda mais violência, e vai cair a responsabilidade nos imigrantes, que também pode ser utilizada por quem queira criar um clima de conflitualidade na rua”.

“Não se envolvam, confiem nas autoridades, na polícia. Sintam-se protegidos e acima de tudo não reajam, que é o que a extrema-direita e os outros populistas radicais querem”, indicou.

Miguel Coelho relata que a Junta de Freguesia “procura estar atenta aos principais problemas das comunidades imigrantes como a integração, questões de legalização de documentos e procura de trabalho”.

“No entanto, só mesmo o Estado central e a autarquia principal, que é Lisboa, é que podem ser decisivos nos inúmeros problemas que se colocam, nesta matéria”, considera o presidente.

A manifestação de extrema-direita está a preocupar os imigrantes que vivem ou trabalham naqueles locais, bem como forças de segurança e associações de apoio, perante um movimento que diz que vai marchar “contra a islamização”.

Segundo avançam fontes das associações Habita e Sirigaita ao Expresso, vários ativistas antirracistas juntaram-se no fim de semana para convocar os “vizinhos da Mouraria e Martim Moniz a organizar um movimento de “defesa e resistência” à marcha de extrema-direita.

Ainda sem planos concretos, esta “celebração da vida”, os ativistas apela à participação de “pessoas de todas as cores, todas as religiões e todas as nacionalidades”

“Queremos celebrar a vida multicultural e em segurança, contra as mensagens e movimentos ameaçadores racistas e xenófobos. Estamos a pensar em conjunto como nos proteger. E as ideias e ações estão em discussão”, indica Maria João Costa, um dos elementos do coletivo.

“Estamos a falar de uma manifestação convocada por pessoas que participaram em assassinatos e agressões a pessoas racializadas. Não podemos esperar nada de bom de uma manifestação que está a fazer um ‘crowdfunding’ para a compra de archotes para usarem nesse dia no nosso bairro. Os seus membros são claramente racistas e pretendem atacar pessoas nossas vizinhas”, denuncia a ativista.

Por outro lado, Maria João Costa recorda as investigações que apuraram que “há infiltrados desses movimentos extremistas e racistas na polícia”, o que aumenta o clima de descrédito e desconfiança para com as autoridades na proteção dos imigrantes.

Rui Rosário, do coletivo antirracista que organiza o protesto, denuncia que a manifestação já agendada para fevereiro” é simplesmente uma cortina de fumo, para ocultar a xenofobia e racismo de partidos e movimentos de extrema direita, para dar a ideia que estas comunidades muçulmanas vêm para cá para viver da Segurança Social, ameaçar as pessoas e impor a religião deles aos portugueses”, sublinhando que há receios de violência.

Ao mesmo tempo, foi também enviada ao Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, a procuradora-Geral da República Lucília Gago, o primeiro-ministro António Costa e ao presidente do Tribunal Constitucional José João Abrantes, uma carta aberta em que os vários signatários recusam “o silêncio” para “travar a saída desta manifestação que, por se poder qualificar entre ‘atividades de propaganda organizada que incitem à discriminação, ao ódio ou à violência contra pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, ascendência, religião’ se constitui como incitamento ao ódio e à violência e não mero exercício da liberdade de expressão”, recordando que é um crime com moldura penal de um a oito anos de prisão.

“Queremos dar um sinal inequívoco e público de que atos e organizações sociais, políticas e partidárias racistas e xenófobas são inaceitáveis e queremos demonstrar a nossa solidariedade para com as vítimas de todos os ataques de ódio em Portugal”, indica a carta endereçada a vários órgãos de soberania.

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