“Devemos ter todo o setor privado preparado para apoiar o crescimento da economia azul”: Especialistas apontam as oportunidades e desafios

A primeira mesa-debate da XXIV Conferência Executive Digest, que teve como mote “A Economia do mar: Como oportunidade de desenvolvimento para Portugal – Tanto e tão pouco”, contou com a participação de Helena Vieira, Cordinator Researcher & ERA Chair Holder da Universidade de Aveiro, e Vasco Becker-Weinberg, Professor Universitário e Presidente do IPDM.

Tendo em conta que 97% do território português é mar, Helena Vieira destacou os números deste setor. A economia do mar em Portugal representa 5,1% do PIB, 5% das exportações nacionais, 4% do emprego nacional, no entanto, o peso principal vem do turismo, desporto, pescas, e apenas depois a parte mais tecnológica como o shipping, os portos, entre outros.

Em Portugal há 40 mil empresas ligadas à economia do mar, um número que seria bastante superior se outras empresas que integram a cadeia de valor tivessem esta componente no seu CAE.

Outro componente são os setores emergentes como a biotecnologia azul, marés, robótica e engenharia marítima, entre ouitros, e toda essa componente é intensa em tecnologia, em recursos humanos qualificados e em valor futuro.

Há ainda outra faceta menos conhecida, os modelos de negócios que conjugam a preservação do ecossistema marinho com o potencial de crescimento económico, como a reflorestação marinha

Para Vasco Becker-Weinberg, aplicamos um conjunto de chavões que não se materializam em nada tangível. “Não podemos apenas injetar milhares de milhões e esperar que isso se materialize”, devemos ter um pensamento estratégico para a economia do mar, pois há um conjunto de problemas que necessitam de reflexão.

Se vamos desenvolver uma economia do mar que tem como sustento as energias renováveis, temos que ter conhecimento e uma análise sobre em que áreas podemos ser competitivos.

O Presidente do Instituto Português de Direito do Mar (IPDM) voltou a sublinhar que 65% da economia azul europeia está relacionada com o turismo, o que não cria nenhum valor concreto para a economia do mar, pelo que temos que conseguir entendâ-la a longo prazo.

 

A economia do mar para além do mar

Helena Vieira considera que a economia azul não está circunscrita ao oceano, é alargada a rios e lagoas, ou seja, pode ser aproveitada pelo interior. E as cadeias de valor podem inserir-se no interior do país, como engenharia, fabricação laboratórios, entre outros.

Há ainda toda a questão de investimento e de incentivos para o investimento na economia azul. “Enquanto empresário posso e devo olhar para a minha atividade e ver como posso levá-la para o caminho de descarbonização e sustentabilidade. Um dos desafios neste âmbito é colocar setores tradicionais portugueses a “casar com a economia azul”.

“Devemos ter todo o setor privado preparado para apoiar o crescimento da economia azul, principalmente a banca. Estamos a falar de uma área de que a banca não sabe como avaliar a sua exposição ao risco”, destaca Vasco Becker-Weinberg

Para se materializarem oportunidades, é necessário investir no conhecimento e na avaliação de risco. “Estamos a colocar imenso dinheiro nas universidades e temos que saber o retorno e rentabilidade”, alerta.

No que respeita à academia, Helena Vieira sublinha que somos o primeiro país da europa a gerar inputs para a economia do mar, mas estamos mal em transformar este conhecimento em valor. “Há muito mais a fazer”, afirma, alertando para a falta de pessoal técnico especializado naquilo que é a economia do mar. “É preciso formar novas pessoas”.