Vai aproveitar os descontos da Black Friday este fim de semana? Tenha atenção, nem todos os negócios são bons, alerta DECO Proteste

A Black Friday chega hoje – o dia que inaugura a temporada de compras natalícias com significativas promoções em muitas lojas retalhistas e grandes armazéns. Mas ‘nem tudo o que luz é ouro’, alertou a DECO Proteste, que analisou as lojas online de dez retalhistas e concluiu que nem tudo são bons negócios… e denunciou mesmo algumas práticas ilegais.

Segundo um inquérito recente de DECO Proteste, sete em cada dez pessoas planeiam fazer compras no período da Black Friday e pensam gastar, em média, 259 euros.

Mas, atenção: alguns retalhistas estão a contornar a lei.

Desde maio, os retalhistas têm de cumprir novas regras nas vendas com redução de preço. Saldos, promoções ou liquidações só podem agora ser anunciados se, de facto, representarem um desconto sobre o preço mais baixo a que o produto foi vendido, na mesma loja, nos 30 dias consecutivos anteriores à aplicação da redução do preço. Já os letreiros, etiquetas ou listas dos produtos à venda com redução de preço devem mostrar, de forma bem visível, o novo preço e o preço mais baixo anteriormente praticado. A indicação da percentagem do desconto é facultativa.

Mas a lei continuou a não ser eficaz para impedir a manipulação de preços por parte de lojas com reduções de preços sucessivas.

Com as mais recentes alterações legais, o período de referência foi reduzido para 30 dias, que agora são contados de forma consecutiva, o que faz com que o preço a considerar para a apresentação de reduções seja mesmo o mais baixo praticado pela loja nesse período, ainda que corresponda a um preço de saldo ou promoção. Reagindo à maior dificuldade em apresentar grandes descontos, algumas lojas não estão a aplicar as novas regras que os obrigam a indicar o preço mais baixo praticado nos 30 dias consecutivos anteriores ao início do período de redução, mantendo a ilusão da prática de bons descontos. Em alguns casos, o preço riscado, ou seja, o preço de referência para o cálculo do desconto, não está a cumprir o requisito legal de ser o mais baixo, na mesma loja, nos últimos 30 dias consecutivos.

A DECO Proteste debruçou-se então, com a ferramenta ‘Comparar Preços’, a acomapnhar as campanhas a decorrer nas lojas online de dez retalhistas: FNAC, MediaMarkt, Radio Popular, Worten, Auchan Tecnologia, El Corte Inglés, IKEA, Conforama, Staples e Jom.

A conclusão: nem tudo são bons negócios e que, mesmo quando o preço é bom, em comparação com o que a loja praticava antes, pode haver preços mais baratos noutras lojas.

No El Corte Inglés foi encontrado um dos exemplos de maus negócios que podem existir online por estes dias, com o forno a vapor AEG SteamCrisp BSE577121M Pirolítico de 72 litros. No dia em que a análise foi feita, este produto estava à venda na loja online do El Corte Inglés por 969 euros. No entanto, a 31 de outubro, um mês antes, esteve à venda na mesma loja por um preço muito mais baixo (775,2 euros). Além disso, na mesma pesquisa no comparador de preços, é possível encontrar este forno noutras lojas a um preço mais baixo. É o caso da Worten online, que o estava a vender por 539,99 euros no dia da pesquisa.

Já o computador portátil de gaming Lenovo IdeaPad 3 15ACH6 era um bom negócio na FNAC. Custava 699,99 euros, mas apesar de se ter verificado um pico de preço uns dias antes, o preço estava realmente a descer. Ainda assim, era possível encontrar este produto ligeiramente mais barato noutros locais. Foi também nesta loja online que encontrámos um exemplo de utilização do preço de venda recomendado (PVPR). Ao lado do preço do produto, o retalhista apresentava o suposto PVPR, sem indicar diretamente que se trata de uma venda com redução de preço. Esta prática transmite ao consumidor a ideia de que ao comprar agora está a poupar 300 euros. Se a FNAC quisesse anunciar uma redução de preço nunca poderia usar o preço de 999,99 euros como referência, apesar de o ter praticado uns dias antes, uma vez que este não era o preço mais baixo dos últimos 30 dias, mas sim o preço mais alto dos últimos 30 dias, como revela a análise ao produto no nosso comparador.

Esta estratégia está a ser usada também pela FNAC para vender o Apple MacBook Air 13” Retina. Embora seja uma boa compra, já que está à venda pelo preço mais baixo que registámos nessa loja desde 22 de outubro e não está à venda por um preço mais baixo noutra loja, também apresenta um PVPR, o que pode induzir o consumidor em erro. Ao lado do preço atual do produto, a FNAC apresenta um PVPR de 1229 euros, o que leva o consumidor a assumir que está a conseguir uma poupança de 230 euros. Contudo, nos 30 dias anteriores ao início da campanha, este produto chegou a custar 979 euros, pelo que o desconto deveria incidir sobre os 979 euros. Além disso, a loja também já teve o produto à venda por 1.229 euros nos últimos 30 dias, tendo sido o preço mais alto desse período.

A Worten é outro dos comerciantes que não estão alinhados com a lei no que diz respeito ao preço de referência. O exemplo analisado pela DECO PROTESTE foi o tablet Samsung Galaxy Tab A8, que se revelou uma boa compra face as preços praticados pela loja nos últimos tempos. No entanto, a Worten online estava a anunciar um desconto que não tem por base o preço mais baixo a que o produto foi vendido nos últimos 30 dias anteriores consecutivos à aplicação da redução. A promoção teve início no dia 20 de novembro, tendo o produto passado a custar 159,99 euros, mas dois dias antes o produto custava apenas 149,99 euros na mesma loja. O preço riscado que está indicado, no valor de 249,99 euros, na realidade corresponde ao preço mais alto a que a loja vendeu o produto nos últimos 30 dias.

Um bom exemplo encontrado na investigação foi o do frigorífico combinado Qilive 155487 Multiportas e Inox 431l No Frost, disponível na loja online da Auchan. Este produto estava à venda por um preço que representava uma boa compra face ao histórico de preços nesta loja. Além disso, o retalhista indica corretamente o preço de referência, já que o preço riscado corresponde, de facto, ao preço mais baixo a que o produto foi vendido nos 30 dias anteriores ao início da promoção, como exige a lei.

Entre as práticas comerciais que a DECO PROTESTE mais identificou nas lojas analisadas está a utilização de algumas formas de comunicação comparativa que não estão em conformidade com o que a lei prevê. A utilização das expressões “preço de venda ao público recomendado” pelo fabricante (PVPR) ou “preço de mercado”, juntamente com o preço praticado pela loja, com ou sem uma percentagem de poupança, é o método mais comum. A estratégia está a ser usada por vários dos comerciantes investigados.

A MediaMarkt é, entre todas as lojas analisadas, a única que não está a anunciar nenhum tipo de redução de preços. O comerciante tem a decorrer uma campanha designada de “Semanas Black”; contudo, os produtos abrangidos apenas apresentam o preço de venda e não indicam quaisquer descontos.

A Conforama, à semelhança dos exemplos encontrados na Worten, na Auchan e no El Corte Inglés, também anuncia reduções de preços e, para os produtos com redução, dá a informação de preços do mesmo modo: preço novo + preço riscado + percentagem de redução. Já a Staples, além do preço novo, do preço riscado e da percentagem de redução, apresenta ainda o valor da poupança em euros. Em princípio, este tipo de comunicação cumpre os requisitos legais desde que o preço riscado corresponda ao preço mais baixo dos últimos 30 dias consecutivos anteriores ao início da aplicação da redução naquela loja.

Noutros casos, é difícil perceber o que está realmente a ser comunicado. No IKEA online, por exemplo, estão a decorrer as promoções IKEA Family (só para membros), até 30 de novembro. Contudo, os produtos em promoção exibem um novo preço e um “preço habitual”, também designado como “preço normal”. Mas a que corresponde este “preço habitual”? Não é claro se corresponde ao preço mais baixo dos últimos 30 dias, como exige a legislação.

Já a Jom, que tem a decorrer a campanha “Black Days”, tem à venda produtos com um novo preço, um preço riscado e uma percentagem de redução. No entanto, para alguns produtos, também está indicado o “Melhor preço dos últimos 30 dias”, o que poderia ser percebido como o preço mais baixo dos últimos 30 dias. O problema é que esse preço não é igual ao preço que está riscado e que serve de base para o cálculo da redução, sendo inferior a este. Em alguns casos verifica-se até que o “Melhor preço dos últimos 30 dias” é igual ao preço a que o produto está a ser vendido com redução, o que revela que esta loja não está a respeitar a lei no que toca ao preço de referência considerado.