Ucrânia: “Era muito importante vir neste dia manifestar toda a nossa solidariedade”, diz João Gomes Cravinho

Esta quarta-feira, o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, está em Kiev, capital da Ucrânia, onde confirma ter estado reunido com o Presidente Volodymyr Zelensky e com o seu homólogo Dmytro Kuleba.

Em declarações à imprensa, Cravinho afirma que a visita tem como objetivo manifestar “solidariedade por parte de Portugal”, destacando que hoje assinala-se o Dia da Independência da Ucrânia, que coincide com os seis meses da “invasão ilegal e injustificada por parte da Rússia”.

“Era muito importante vir neste dia manifestar toda a nossa solidariedade”, aponta o chefe da diplomacia portuguesa, “que se traduz em termos práticos e concretos, em apoio político, em apoio financeiro, em apoio militar, e também em apoio humanitário”, destacando que mais de 50 refugiados ucranianos chegaram a Portugal desde o início do conflito, a 24 de fevereiro.

“Essa manifestação de apoio é para continuar”, garante, explicando que foi essa mensagem que transmitiu a Zelensky e a Kuleba. “Continuaremos a apoiar em todas as dimensões: politicamente, militarmente, financeiramente e também na perspetiva humanitária”, detalhou.

Cravinho afirma também que recebeu informação “sobre o estado da guerra e sobre o reator nuclear de Zaporíjia”, e assegura que o governo ucraniano mantém “um estado de espírito confiante e combativo”.

Sobre os ataques à central nuclear de Zaporíjia, que ainda hoje se fizeram sentir, o MNE diz que “é profundamente lamentável” e que “percebemos perfeitamente que o objetivo russo é procurar cortar o fornecimento elétrico [a partir desse reator] para o resto a Ucrânia”. Acrescenta ainda que o Kremlin pretende “desviar esse fornecimento elétrico para proveito próprio da Rússia e das áreas ocupadas pelas forças militares russas”.

“É absolutamente inaceitável e é fundamental que haja uma desmilitarização da central nuclear”, defende Cravinho.

Quanto ao encontro com Zelensky, o português adiantou que lhe foi feita “uma atualização sobre a situação militar” e que o Presidente ucraniano “agradeceu o apoio de Portugal em múltiplas dimensões, mas manifestou muito interesse e muito apreço pelo trabalho que Portugal assumiu em relação à construção de escolas”.

“Portugal vai empenhar-se agora na reconstrução de escolas na região de Jitomir”, salientou o MNE, que acrescentou que Zelensky terá apresentado também novos pedidos “de natureza militar” diferentes dos que têm sido feitos até agora, e que irá partilhá-los com o Primeiro-ministro António Costa e com a ministra da Defesa, Helena Carreiras.

Relativamente aos pedidos específicos, Cravinho adianta que “as forças armadas ucranianas tiveram uma expansão muito rápida” e “uma incorporação muito grande de militares nas fileiras”, explicando que “além de todas as necessidades de equipamento militar”, há também “necessidade de fardas, de tudo o que a nossa indústria têxtil poderá eventualmente produzir”.

Cravinho argumenta que “no campo militar, a Rússia não tem tido sucesso”, realçando que, quanto ao seu objetivo de conquistar Kiev, “foi derrotada”.

“A Rússia sofreu claramente uma derrota no seu objetivo inicial, que era o de conquistar a capital, e, presumimos, instalar um governo ‘fantoche’, tal como a tradição do tempo soviético em relação a várias partes da Europa central e do Leste”, sublinha.

E afirma que “a Rússia em sistematicamente falhado os seus objetivos” e que “inicialmente dizia-se que em poucas semanas chegariam a Kiev”, mas “passaram-se seis meses e nem sequer o Donbass controlam”.

“A nossa expectativa é que, continuando este grau de empenhamento da comunidade internacional em apoio à Ucrânia”, esse país “terá o ganho de causa”, avança o ministro.

Até agora não há registo de baixas entre os portugueses que combatem em solo ucraniano, mas o MNE admite que o Governo não sabe quantos são, embora afirme que será “um número muito reduzido”, e que “o nosso conselho muito forte é não venham cidadãos portugueses para combater na Ucrânia”.

“Sabemos de sete que vieram, mas não sabemos se ainda cá estão todos ou se alguns já terão regressado”, reconhece Cravinho.

Alguns funcionários da embaixada de Portugal em Kiev, como o embaixador e outros diplomatas, “foram retirados por instruções nossas”, sendo que atualmente já estão de regresso.

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