Vacinar animais selvagens? Especialista defende que é a melhor solução para evitar novas pandemias
O ano de 2022 já ficou permanentemente marcado nas páginas da História como o ano das pandemias, seja pela persistência da Covid-19, pelo surgimento da monkeypox ou pelo aumento da disseminação de patógenos que estavam confinados a cantos remotos do planeta, e outros que se pensava estarem extintos ou controlados.
A sobre-exploração dos recursos naturais, a desflorestação e destruição de habitats e o aquecimento global têm vindo a encurtar a distância entre os humanos e animais selvagens, aumentando significativamente o risco de surtos de zoonoses, doenças transportadas por animais que podem atravessar a barreira para as populações humanas.
Assim, o risco de novas epidemias ou pandemias será cada vez maior. Dois biólogos da Universidade do Ohio, nos Estados Unidos, dizem que a solução passa por vacinar animais selvagens.
Tendo avançado a proposta em 2020, os investigadores explicam agora existem muitas formas de vacinar animais selvagens e que isso já é feito nos dias de hoje.
Scott Nuisner conta à ‘Euronews’ que “já fazemos isso na América do Norte e na Europa para controlar a raiva”, e aponta como exemplo a vacinação de guaxinins, animais selvagens com uma forte presença nos meios urbanos, deixando cair de um helicóptero ou avião “vacinas que estão em iscos comestíveis”.
Tal “protege-nos a nós, ao nosso gado e aos nossos animais de companhia”, argumenta o especialista. Contudo, salienta que isso exige recursos, tais como fundos para adquirir aeronaves e para comprar os iscos.
Nuisner explica que a vacinação é mais eficiente em populações de animais selvagens que tenham uma maior esperança média de vida, pois vacinar animais que se reproduzem muito rapidamente, em pouco tempo, diluem os efeitos da imunização.
Essa constatação levou os cientistas a procurarem vacinas que não se esgotem num só indivíduo, mas que possam ser transmitidas entre animais. Esse será um método que recorre a vacinas que são colocadas na pele ou pelo do animal, que depois é devolvido à sua colónia, espalhando o tratamento.
Apesar de já ser possível desenvolver este tipo de vacinas, o biólogo lamenta que “em termos de implementação estamos ainda muito aquém”.
A vacinação de animais selvagens será também essencial para proteger as suas populações, visto que após o surto de Covid-19, que se suspeitava ter tido origem em morcegos, houve uma caça indiscriminada a este mamífero alado. Assim, se os animais forem vacinados, não poderão ser usados como “bodes expiatórios” para futuras pandemias.