Seca: Está a Europa preparada para viver com (muito) menos água?
Por todo o continente a falta de chuva, as temperaturas elevadas e as ondas de calor estão a transformar porções da Europa em terrenos quase desérticos. De acordo com o Observatório Europeu da Seca indica que 47% do território da União Europeia está sob condição de “aviso” e 17% sob “alerta”, e alguns especialistas dizem que esta é a pior seca dos últimos 500 anos na Europa.
Dominic Royé, especialista em clima e professor na Universidade de Santiago de Compostela salienta que “o que vemos este verão é um evento composto, quando dois ou mais riscos climáticos ocorrem em simultâneo ou sequencialmente, neste caso, seca hidrológica e ondas de calor”, cita o ‘ABC’.
A falta de chuva deixou muitos reservatórios de água europeus abaixo dos níveis considerados ideais, em alguns casos levando mesmo a mínimos. Por exemplo, regiões no sudeste de Inglaterra não recebem chuva há cerca de 150 dias, de acordo com fontes oficiais.
“O final da primavera e o princípio do verão de 2022 caracterizaram-se por condições anticiclónicas anormais na maior parte da Europa ocidental e central”, elucida o Observatório Europeu da Seca.
Por sua vez, o serviço europeu de observação das alterações climáticas, Copernicus, avança que “o passado mês de julho foi mais seco do que a média na maior parte da Europa ocidental”, acrescentando que o fenómeno se sentiu “desde a Península Ibérica até ao Mar Negro, incluindo o Reino Unido e a Irlanda”.
O comissário europeu para o Ambiente, Virginijus Sinkevičius, já alertou que “os recursos de água doce são escassos e estão sob cada vez mais pressão”. Nesse âmbito, o responsável argumenta que “temos de deixar de desperdiçar água e de usar este recurso de forma mais eficiente, para nos adaptarmos às alterações climáticas e para garantir a segurança e a sustentabilidade do nosso abastecimento agrícola”.
Com um cenário de seca prolongada como pano de fundo, e com alguns observadores a afirmarem que este será o “novo normal”, vários países europeus estão já a implementar planos de redução do consumo de água.
Em Espanha, as albufeiras do Guadalquivir e do Guadiana estão a 23% e 25%, respetivamente, a passo que a média nacional situa-se nos 39%.
O diretor do Observatório da Água da Fundação Botín, Alberto Garrido, frisa que “temos um sistema de gestão de secas e boas infraestruturas”, contrapondo que “a Alemanha e França não têm essa regulamentação e que a situação de seca os afeta mais”. Contudo, o especialista Royé discorda e sublinha que “nem Espanha nem a Europa estão preparadas para fazer frente a uma grande seca”.
Já em França, no dia 12 de agosto, 93 dos 101 departamentos em que o país se divide estão sob medidas de restrição do uso de água, sendo que três estão em estado de alerta, 16 em alerta máximo e 74 em condição de crise, de acordo com o Ministério da Transição Ecológica francês.
“O litoral mediterrânico e os arquipélagos estão melhor preparados”, aponta Royé, explicando que “seguramente porque sofreram em décadas passadas com secas sequenciais e têm implementadas medidas para garantir o abastecimento, pelo menos em meio urbano”.
No entanto, no interior da Península Ibérica e nas regiões do Mar Cantábrico a situação de seca “é especialmente delicada”.
De acordo com os especialistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, o que deveria ver somente em 2050 está a acontecer quase três décadas antes das previsões.
Os cientistas explicam que o aquecimento global tornará mais frequentes, mais intensos e mais duradouros fenómenos climáticas extremos, como ondas de calor e períodos de seca severa, e que os próximos anos não deverão trazer melhorias.