Ocidente pode ter em África a solução para reduzir dependência do petróleo da Rússia
A guerra na Ucrânia causou instabilidade nos mercados energéticos, fazendo disparar os preços do petróleo e do gás natural. Os países ocidentais estão a procurar alternativas para fazer frente ao abandono da energia russa.
Desde o início do conflito, os países africanos têm sido procurados para suprir parte da escassez gerada pelo abandono do petróleo da Rússia. Por sua vez, Moscovo tem procurado ancorar as suas receitas petrolíferas em países mais amistosos ao regime russo, com especial destaque para os mercados asiáticos. Países como a Índia e a China têm aumentado as compras de petróleo à Rússia, aproveitando os preços mais reduzidos a que o produto está a ser vendido.
Aponta o jornal ‘El Economista’ que, contrariamente ao que seria de esperar, as exportações de petróleo russo estão em níveis pré-guerra, com os preços da commodity na casa dos 116 dólares por barril. Mesmo que a União Europeia conseguisse chegar a um consenso sobre um novo pacote de sanções contra a Rússia, o país poderia não sofrer grande impacto, escudando-se nos parceiros asiáticos.
O analista Norbert Rücker, da gestora de investimentos suíça Julius Baer, refere que se os países ocidentais não exercerem pressão sobre os compradores asiáticos, o petróleo russo continuará a fluir para a Ásia, e o Kremlin a arrecadar as receitas dessas vendas. Dados da Petro-Logistics, revelam que o fluxo de petróleo russo para a Ásia aumentou pelo menos 50% desde o início de 2022.
Para contornar as sanções dos Estados Unidos, da UE e seus aliados, que procuram impedir o movimento dos petroleiros russos, Moscovo tem adotado a tática de transferir, em pleno mar, o petróleo dos seus navios para embarcações dos países compradores. Essas manobras comportam, naturalmente, grandes riscos, principalmente no que toca a potenciais derrames. Estima-se que cerca de 400 mil barris sejam transferidos diariamente entre navios no Mar Mediterrâneo.
Num cenário de abandono da energia russa, o continente africano, particularmente a região ocidental, passa para a linha da frente nos abastecimentos à Europa, tendo sido registado um aumento de 17% em abril do petróleo vindo de África, de acordo com a Petro-Logistics.
Dados avançados pelo periódico espanhol mostram que países com a Nigéria, os Camarões e Angola têm já aumentado os níveis de exportação de petróleo para a Europa. Também as importações europeias do Norte de África registaram uma subida de 30% desde março.
Abhishek Mishra, do Programa de Estudos Estratégicos da Observer Research Foundation, explica que “o manancial de projetos de petróleo e gás, existentes e futuros, em África sublinha a oportunidade crítica que os países têm para desempenharem um papel mis central nos mercados energéticos globais, numa altura em que os países europeus procuram fornecedores alternativos [à Rússia]”.
O especialista aponta que se o continente conseguir o financiamento necessário para concretizar esses projetos e garantir a segurança das cadeias de abastecimento, “África tem o potencial para reduzir a dependência energética da Europa face à Rússia”.