Quais os novos desafios da dona da Zara? Aposta no e-commerce é fundamental, ou pode ficar para trás

O grupo Inditex deve reforçar a aposta nas vendas através da Internet para não perder terreno para concorrentes como a Shein, que dominam o mundo das vendas online de moda e praticam preços que podem ser ameaças para o negócio de marcas já estabelecidas.

O grupo Inditex saiu de 2021 com um lucro líquido de 9,4 mil milhões de euros, um montante que lhe permitiria adquirir novas capacidades na área do comércio online, e isso poderia passar pela compra de um dos concorrentes mais pequenos, como por exemplo a alemã Zalando, que está avaliada numa quantidade semelhante. Dessa forma, a Zara poderia reforçar a sua presença online e procurar reconquistar alguns dos clientes perdidos para os preços mais baixos da Shein.

Além disso, o grupo deverá procurar formas de reduzir os preços praticados, para poder concorrer com os novos rivais do mundo digital, que por não terem despesas com lojas físicas, conseguem ter margem para vender mais barato.

A chinesa Shein, criada em 2008, é considerada o maior concorrente da Inditex e tem vindo a conquistar cada vez maior notoriedade a nível mundial. As receitas da empresa passaram dos 1,5 mil milhões de euros para mais de 13 mil milhões de euros em 2021, tendo a pandemia permitido triplicar os lucros. Tudo sem uma única loja física. Em 2021, as receitas líquidas do grupo Inditex cifraram-se nos 27,7 mil milhões de euros.

A empresa apoia-se em algoritmos que vasculham as redes sociais em busca das tendências de moda que mais captam o interesse dos consumidores. Além disso, os incentivos fiscais concedidos pelo governo chinês permitem à Shein vender todo o tipo de produtos a preços mais reduzidos nos mercados ocidentais, preços com os quais muitas marcas nativas não conseguem praticar sem grandes prejuízos financeiros.

Em 2021, a aplicação para dispositivos móveis da Shein destronou a da Amazon como a mais descarregada nos Estados Unidos.

No entanto, nem tudo são rosas. Aponta o ‘El Mundo’ que vários artistas e marcas acusam hoje a Shein de infringir direitos de autor. Avança o portal ‘Dazed’ que em 2018 a Levi Strauss acusou a empresa chinesa de copiar padrões de costura que eram propriedade da conhecida marca de calças de ganga. Também a fabricante das botas Dr. Martens e a Ralph Lauren já lançaram ações judiciais contra a Shein por utilização indevida de propriedade intelectual.

Em maio, Eduardo Zamácola, presidente da Acotex, associação patronal têxtil espanhola, explicou que a Shein pegou no conceito de ‘fast fashion’ criado há 30 anos por Amancio Ortega, fundador do grupo Inditex, e melhorou-o. A Zara conta com um catálogo de cerca de 7 mil produtos por ano, ao passo que a Shein consegue chegar aos 315 mil no mesmo período de tempo.

Um dos pilares centrais do mercado global da chamada ‘fast fashion’, moda de consumo rápido e a preços mais acessíveis, a Zara começou recentemente a cobrar por devoluções de artigos comprados através dos seus canais online.

Contudo, este não é, pelo menos por agora, um procedimento que tenha sido implementado em todos os países em que a marca opera. De acordo com o jornal ‘El Mundo’, a cobrança pela devolução está a ser testada em alguns países, como Alemanha, França e Roménia, e apenas acontece nos casos em que o artigo devolvido tenha que ser recolhido pela empresa na casa do comprador.

A cobrança por devoluções é uma tendência que, segundo o ‘El Mundo’, tem vindo a ganhar relevo nos setores do retalho, recorrendo muitas vezes a análise de dados e a tecnologias de inteligência artificial para que os valores cobrados sejam segmentados por perfil de consumo. Ou seja, aos clientes com maiores taxas de devolução, que são frequentemente compradores impulsivos, serão cobrados valores mais altos.

Esta poderá ser uma estratégia do grupo Inditex para refinar a base de compradores e eliminar despesas logísticas desnecessárias, mas a aposta no online deverá ser mais abrangente, se ambiciona competir com as “Sheins” do mundo.

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