“Bombas de carbono”: Grandes petrolíferas estão a planear investir mais de 100 milhões de dólares todos os dias durante 10 anos em novas explorações

Em maio de 2021, a Agência Internacional de Energia (IEA) alertou que para o mundo reduzir a zero as emissões de dióxido de carbono até 2050 e manter o aquecimento global nos 1,5 graus centígrados não poderiam ser desenvolvidas novas explorações de petróleo nem de gás. Novas informações apontam que a indústria petrolífera está a planear abrir 195 novas explorações nos próximos sete anos.

Uma investigação conduzida pelo ‘The Guardian’ revela que as maiores empresas petrolíferas do mundo estão a planear investimentos de 103 milhões de dólares todos os dias ao longo da próxima década para explorarem novas reservas de combustíveis fósseis. O jornal britânico avança que essas “bombas de carbono” têm o potencial para emitirem milhares de milhões de toneladas de CO2 ao longo dos seus tempos de vida, e que 60% das novas explorações já estarão em funcionamento.

O ‘The Guardian’ aponta que as empresas que estão a liderar esses novos projetos de exploração são a Qatar Energy, a Gazprom, a Saudi Aramco, a ExxonMobil, a Petrobras, a Turkmengaz, a TotalEnergies, a Chevron, a Shell e a BP.

Os planos da ExxonMobil e a Gazprom terão planos a sete anos para a produção de 192 mil milhões de barris, cuja queima será o equivalente a uma década de emissões de CO2 da China, ou seja, 73 mil milhões de toneladas desse gás.

Parte dos novos projetos estão localizados no Médio Oriente e na Rússia, mas alguns dos maiores planos de expansão de operações petrolíferas estarão localizados em países que publicamente assumem narrativas duras de combate às alterações climáticas, como os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália, de acordo com as informações agora reveladas.

Metade dos planos de expansão da Gazprom situam-se no Ártico, uma região já bastante fustigada pelos aumentos consecutivos de temperatura, embora a guerra na Ucrânia levante dúvidas sobre a sua concretização.

Os novos projetos identificados pela investigação incluem operações de ‘fracking’, o fragmento hidráulico para extração de combustível, e perfurações em mar profundo. O jornal britânico aponta que o risco ambiental dessas explorações é relativamente maior, porque “à medida que as empresas de petróleo e gás furam mais fundo, o número de derramamentos, ferimentos e explosões aumenta”.

A abertura dessas novas explorações de combustíveis fósseis colocará em xeque o cumprimento dos planos de redução e eventual eliminação de emissões de dióxido de carbono, procurando limitar o aquecimento do planeta a 1,5 grau centígrados face a níveis pré-industriais.

No entanto, é possível observar assimetrias no que toca ao compromisso de países e empresas com o combate ao aquecimento global e às alterações climáticas. Na cimeira do clima de novembro passado, a COP26, ficou claro que os combustíveis fósseis ainda têm uma grande influência nas decisões políticas, e o sentido de urgência na redução das emissões de gases com efeito de estufa acaba por desvanecer quando é requerido que Estados e empresas abram mão do chamado “ouro negro”.

Citado pelo ‘The Guardian’, Nils Bartsch da ONG Urgewald, sublinha que “a maioria das empresas de petróleo e gás estão a proceder como se nada se passasse”. “Algumas não querem simplesmente saber.”

A guerra na Ucrânia veio impulsionar os preços dos combustíveis fósseis um pouco por todo o mundo, e isso criou condições vantajosas para que as petrolíferas procurassem formas de navegar essa onda lucrativa.

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