EDP: «Somos uma empresa de referência em Inovação e ESG»

O Brasil é um mercado continental, com peculiaridades e desafios proporcionais ao seu tamanho. Um dos factores para sucesso da companhia no país é o pensamento de longo prazo. Em entrevista à Executive Digest, João Marques da Cruz, CEO da EDP Brasil, explica os principais desafios da empresa para o futuro.

A EDP Brasil fechou o primeiro semestre de 2021 com um lucro líquido de 840 milhões de reais, uma subida de 65,3% face ao período homólogo. A que se deve este resultado muito positivo?

O primeiro semestre de 2021, início da minha gestão como CEO da EDP no Brasil, foi marcado pela consistência dos nossos resultados nos eixos prioritários da estratégia da companhia. Nesse contexto, em Distribuição, o volume de energia distribuída apresentou aumento de 10% no semestre em função da recuperação da actividade económica, das elevadas temperaturas registadas no período e da expansão no número de clientes. Ainda neste segmento, destacaria todos os esforços realizados para a estabilidade dos níveis de perdas e o aumento do investimento realizado pela EDP nas suas áreas de concessão. Com isso, a receita líquida gerada pela Distribuição no semestre chegou a R$ 4,3 bilhões, um aumento de 28,2% sobre o mesmo período do ano anterior. Na Transmissão, tivemos a entrada em operação parcial dos lotes Q e 21 de linhas de transmissão, ambos na região sul do país, além da conclusão da aquisição, no mercado secundário, do lote de linhas de transmissão Mata Grande Transmissora de Energia. A companhia ainda conquistou, em Junho, o Lote 1 do Leilão de Transmissão 01/2021, que proporcionará receita anual permitida (RAP) de R$ 38,6 milhões através da construção de 350 quilómetros de linhas de transmissão e de uma subestação. Na frente de energia solar, em Junho concluímos a aquisição da AES Inova, plataforma de investimento em geração distribuída. Com a operação, a EDP ampliou em 50% o tamanho de sua carteira neste mercado no Brasil chegando a aproximadamente 100 MWp. No mesmo mês, a EDP e o Grupo NotreDame Intermédica, maior operadora de saúde do Brasil, firmaram um contrato para a implantação de quatro usinas solares.

Como é que a EDP Brasil espera ultrapassar os desafios, num momento de transformação com novas formas de produção de energia e liberalização do mercado?

Anunciámos em Abril o nosso plano estratégico para o período de 2021 a 2025, que prevê um investimento recorde de R$ 10 bilhões no Brasil. Na Distribuição, que receberá o montante de R$ 6 bilhões, quase o dobro do ciclo anterior, vamos investir em melhorias para reduzir as perdas e ampliar a flexibilidade da operação, promovendo a actualização tecnológica das redes. Além disso, expandiremos o nosso projecto de redes inteligentes. Em outra frente, destinaremos R$ 3 bilhões ao investimento em geração solar, distribuída e utility scale, por meio de PPAs corporativos. Até 2025, a nossa expectativa é multiplicar o nosso parque solar no Brasil em mais de 25 vezes (sair de menos de 50 MWp e chegar a mais de 1 GWp). Estamos a procurar activamente essas oportunidades. Nesse sentido, fizemos recentemente as aquisições da AES Inova e de 40% da Blue Sol. Pela sua experiência de actuação no mercado livre europeu, a EDP vê como positiva uma futura ampliação da liberalização do mercado brasileiro, o que abriria uma série de oportunidades, como a tarifa pré-paga e o desenvolvimento de soluções para controlo do consumo pelos clientes.

Qual é o portefólio actual da empresa no Brasil?

Actuamos em toda a cadeia do sector eléctrico brasileiro. As nossas distribuidoras, nos estados de São Paulo e Espírito Santo, atendem 3,5 milhões de clientes localizados em 98 municípios dos estados de São Paulo e Espírito Santo, numa área de concessão de aproximadamente 51 mil quilómetros quadrados. O volume de energia distribuída foi de 24,4 TWh em 2020. A EDP é também a principal accionista da Celesc, distribuidora de energia do estado de Santa Catarina.

Temos seis centrais hídricas em operação: Lajeado, Peixe Angical, Mascarenhas, Santo António do Jari, Cachoeira Caldeirão e São Manoel, além da Central Termoelétrica de Pecém. Juntas, possuem uma capacidade instalada de 2,9 GW, sendo 75% provenientes de fontes renováveis. Iniciámos as nossas actividades no segmento de Transmissão em 2016 e hoje possuímos oito lotes, totalizando mais 1,9 mil km de linhas de transmissão – entregues ou em construcção. E, através da EDP Smart, a nossa área de Soluções em Energia, comercializamos energia no mercado livre e negociamos projectos de geração solar e mobilidade eléctrica voltados ao mercado B2B. Com a aquisição da AES Inova, chegamos a cerca de 100 MWp em activos de geração solar fotovoltaica entregues ou em desenvolvimento. Em 2020, comercializamos 25.554 GWh, um aumento de 6,3% em relação a 2019.

A EDP Brasil tem feito um investimento muito forte na expansão e melhoria das redes. Gostariam de destacar alguns desses ou outros investimentos realizados em 2021?

O segmento de redes tem importância central na nossa estratégia para o Brasil. Entre 2021 e 2025, teremos um investimento recorde de R$ 6 bilhões na Distribuição, ou 60% do total a ser investido no país no período. Apenas no primeiro semestre de 2021, já fizemos aportes de R$ 491,8 milhões nas nossas áreas de concessão. Foram obras de expansão (implantação e ampliação de subestações e linhas de distribuição para ligações de novos clientes), melhorias da rede (substituição de equipamentos), melhorias em telecomunicações e informática, e de projectos de combate às perdas.

No estado de São Paulo, iniciámos a construcção da Estação de Transformação de Energia Santa Luzia, no município de São José dos Campos, um empreendimento de mais de R$ 21 milhões, que beneficiará cerca de 72 mil pessoas. Outros R$ 23 milhões foram destinados a uma subestação de energia em São Sebastião, favorecendo aproximadamente 15 mil clientes. No município de Salesópolis, a construcção e modernização da rede de energia recebeu R$ 2,3 milhões. Além disso, já finalizamos a ampliação da subestação de energia que atende Guarulhos e Itaquaquecetuba, com investimento de R$ 8,1 milhões e melhorias para 33 mil clientes.

No Espírito Santo, podemos destacar a construcção de três novas subestações e uma obra de conexão ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, mediante um investimento de R$ 38 milhões, a nova subestação construída pela EDP beneficiará 354 mil habitantes de 10 municípios. A subestação Ibiraçu, por sua vez, atenderá 21 mil habitantes de quatro cidades, com investimento de R$ 5 milhões. Já a construcção de uma subestação de energia em Santa Teresa receberá um investimento de R$ 4,4 milhões, favorecendo 7,5 mil habitantes de três cidades. Por fim, a a obra de conexão do sistema de Distribuição da EDP com o Sistema Interligado Nacional (SIN), no município de João Neiva, beneficiará cerca de um milhão de pessoas, com um investimento de R$ 17,3 milhões.

Quais os principais pilares do sucesso da EDP no Brasil?

O Brasil é um mercado continental, com peculiaridades e desafios proporcionais ao seu tamanho. Um dos factores para nosso sucesso no país é o pensamento de longo prazo. A entrada no mercado de transmissão, por exemplo, deu-se pelo nosso entendimento das oportunidades que o Brasil tem em termos de grandes projectos de infra-estrutura, pela nossa expertise na condução e entrega antecipada desses projectos, e pela sinergia que a construcção desses empreendimentos pode ter com outros negócios em algumas regiões. Além do planeamento de longo prazo, empregamos a excelência que nos é característica em todos os braços da nossa actuação: distribuição, geração solar distribuída, transmissão, geração, comercialização e soluções de energia.

Por fim, somos percebidos como uma empresa de referência em Inovação e ESG. Em 2020, fomos eleitos a companhia mais inovadora do sector no ranking Valor Inovação Brasil, do principal jornal de Economia do país. Também ficámos em primeiro lugar no sector no raking 100 Open Corps, que reconhece as empresas mais envolvidas com o ecossistema de inovação. Em ESG estamos entre as cinco empresas listadas na Bolsa, no Brasil, com maior presença feminina no Conselho de Administração – uma conquista reconhecida com o selo Women on Board, iniciativa apoiada pela ONU Mulheres – e assumimos compromissos públicos, como o de garantir que, até 2022, 50% de todas as nossas novas contratações venham de grupos hoje sub-representados na sociedade nos pilares de género, raça, gerações, LGBTQIAP+ etc. Tudo isso faz da EDP uma empresa competitiva e admirada no Brasil pelos seus investidores e demais stakeholders.

A EDP recebeu recentemente a recertificação por excelência na gestão ambiental e de segurança em 100% das subestações em São Paulo. Quais as preocupações da empresa com a Sustentabilidade e que outros projectos destacaria?

A sustentabilidade está no centro da nossa estratégia. Fomos a primeira empresa do sector eléctrico brasileiro a criar uma vice-presidência de Pessoas e ESG, com o objectivo de garantir que esses princípios sejam sempre considerados no processo de tomada de decisão.

Também somos a primeira empresa do sector de energia na América Latina e de grande porte no Brasil a ter a sua meta de redução de emissões de CO2 aprovada pela iniciativa internacional Science Based Targets (SBTi), que mobiliza empresas a assumirem compromissos de redução nas emissões de gases relacionados ao efeito de estufa, seguindo critérios científicos. Assim, comprometemo-nos a, até 2032, reduzir em 85% a intensidade de nossas emissões face a 2017, deixando de produzir aproximadamente oito milhões de toneladas desses gases até o fim do período.

Estamos ainda entre as 13 signatárias, no Brasil, do pacto Business Ambition for 1.5 ºC – Our Only Future, da ONU, garantindo que, até 2030, 100% da energia gerada pela EDP no Brasil sejam provenientes de fontes renováveis. Em 2020, também nos unimos ao Compromisso Empresarial Brasileiro para a Biodiversidade, iniciativa do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), reforçando o nosso empenho com a prevenção, mitigação e compensação de impactos sobre a diversidade.

Há 15 anos, fazemos parte da carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, a bolsa de valores do Brasil. Na última revisão, obtivemos o nosso melhor desempenho, aumentando em três pontos a nossa classificação, obtendo notas acima da média em todas as sete dimensões do questionário e sendo considerados benchmark em cinco delas.

A EDP é a primeira empresa do sector eléctrico certificada pela ANAC para monitoramento de redes com uso de drones. Qual é que é a importância da inovação na vossa actividade?

É verdade. Esses equipamentos ajudam-nos a identificar anomalias nos activos de energia, assim como outros tipos de riscos, tais como incêndios ou invasões da faixa próxima à fiação. Os drones possuem câmeras de alta resolução e recursos como infravermelho, ultravioleta e ultrassom para gerar relatórios automaticamente após o fim das análises, de modo que as áreas responsáveis possam realizar os reparos, se necessário. Dessa forma, a companhia consegue actuar na manutenção preventiva de equipamentos, aumentando a sua vida útil e melhorando os índices de eficiência no fornecimento de energia aos seus clientes. Num ano, a companhia estima monitorar de 30 a 40 mil quilómetros de redes.

Este é apenas um exemplo de como a inovação pode contribuir com um sector que passa por tantas transformações ditadas pelas tendências da descarbonização, descentralização e digitalização.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Empresas Portuguesas no Brasil”, publicado na edição de Setembro (n.º 186) da Executive Digest.

Ler Mais





Comentários
Loading...