Como evoluiu a perceção do risco depois do 11 de setembro? Ataque terrorista foi há 20 anos
Volvidas duas décadas desde os atentados terroristas de 11 de setembro nos EUA, multiplicam-se os testemunhos e as considerações acerca daquele que é um dos acontecimentos mais dramáticos e disruptivos do mundo contemporâneo.
O conjunto de ataques ao World Trade Center, que vitimou milhares de pessoas e causou danos irreparáveis para a humanidade, colocou forçosamente os conceitos de imprevisibilidade e risco na mesma equação.
“Quando fazemos uma avaliação deste período, a maior lição que tiramos em termos de perceção de risco é que o inesperado acontece, devendo nós estar sempre preparados para os cenários menos prováveis”, considerou Fernando Chaves, Risk Specialist da Marsh Portugal, em declarações à Executive Digest.
O Grupo Marsh McLennan, uma das maiores empresas de corretagem de seguros e consultoria de riscos, “foi uma das organizações mais impactadas, tendo perdido mais de 300 colegas numa das torres e num dos aviões”, revelou o mesmo especialista, dando a conhecer a estratégia seguida para lidar interna e externamente com a tragédia.
“Desde a primeira hora, a robustez do nosso plano de continuidade – a nossa preocupação, desde o início, foi ajudar as famílias das vítimas e apoiar os colegas que sobreviveram. Ao mesmo tempo, as equipas em todo o mundo juntaram-se para continuar a prestar serviço aos nossos clientes, mesmo em circunstâncias muito difíceis. Em poucos dias, tínhamos novos escritórios para receber os colegas e as nossas capacidades tecnológicas restabelecidas. Também conseguimos ajudar com rapidez os clientes que também foram afetados por este atentado”, explicou Fernando Chaves.
Transformação na área da gestão de riscos
Na mesma entrevista concedida à Executive Digest, o especialista expõe o inevitável processo de transformação pelo qual a própria área da gestão de riscos passou na sequência do acontecimento que marcou o alvorecer do século XXI: “Neste período, o domínio da gestão de riscos evoluiu também de forma significativa, tendo sido melhorados os modelos e ampliados o espectro de riscos e de cenários, não devendo ser esquecido o papel cada vez mais importante da tecnologia, no tratamento de dados históricos para melhoria de previsões futuras e construção de cenários complexos num mundo cada vez mais interconectado”.
“Em 20 anos são notórias as mudanças. A função de gestor de riscos e até de CRO (Chief Risk Officer) existe num número cada vez mais alargado de empresas, não se limitando hoje apenas às empresas cotadas em bolsa. As instituições financeiras, nomeadamente a banca e seguros, adotaram modelos de gestão de risco mais exigentes (Basileia e Solvência), pressionando os seus clientes a prestar mais informação e a cumprir com critérios cada vez mais apertados em matéria de gestão de risco”, esclareceu ainda o especialista.
Fernando Chaves destaca as reformas levadas a cabo pela empresa, a médio e a longo prazo, “no sentido de rever clausulados de seguro – perspetivando cenários de perda mais gravosos e enquadramento de coberturas mais amplas, nomeadamente de terrorismo -, apoiar os gestores de risco na revisão e implementação de planos e apoiar os clientes na negociação das suas apólices – frente ao endurecimento das condições por parte de seguradores e resseguradores para fazerem face às perdas geradas pelo ataque (mais de $30 mil milhões) e por uma maior imprevisibilidade de cenários futuros”.
“O 11 de setembro fica gravado na nossa história, não só como o dia mais negro para o Grupo Marsh McLennan e para muitos dos nossos clientes, como também pelo impacto brutal que teve na indústria seguradora e na gestão de riscos”, sintetizou.